Jornal Estado de Minas

Sérgio Cabral vê ameaçado os sonhos políticos pós-2014

Paulo de Tarso Lyra
Mesmo após escapar da convocação para depor na CPI mista do Congresso, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), não resistiu ao estrago que o escândalo tem provocado na imagem dos homens públicos flagrados com algum tipo de relação com os esquemas do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. E a pouca atuação partidária faz com que o PMDB comece a ter ressalvas na hora de defendê-lo. Governador reeleito, lembrado como exemplo de gestor na área de segurança pública graças à implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), Cabral está arredio, evita as entrevistas e vê ameaçados os sonhos políticos pós-2014, quando deixará o Palácio das Laranjeiras. De postulante ao cargo de vice em uma eventual chapa presidencial, começa a contentar-se com uma cadeira no Senado e vislumbra a disputa pela Prefeitura do Rio em 2016.
Mandato de senador, Cabral já teve. E na prefeitura ele substituiria o grande afilhado político, Eduardo Paes (PMDB), que começa a ensaiar um distanciamento de seu ex-mentor. Precavido, Paes sabe que o desgaste de Cabral pode respingar na própria corrida por um novo mandato a partir de 2013. Desde que o escândalo envolvendo a Delta Nacional estourou, o abismo entre governador e prefeito aumentou ainda mais. “Antes, todos viam Paes como um secretário do governo Cabral. Agora, ele faz questão de mostrar que tem brilho próprio”, diz o dirigente de um partido aliado ao PMDB na prefeitura carioca.

Paes não tem Cabral como inimigo. Nem poderia. Ele amargava um ostracismo no PSDB em um momento no qual o Rio de Janeiro vivia uma “paixão lulista”. O governador o levou para os quadros peemedebistas e convenceu o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a perdoá-lo dos ataques desferidos durante o auge da crise do mensalão, em 2005. Hoje, Paes está voando nos índices de popularidade e vê a reeleição à prefeitura praticamente assegurada. E, claro, não quer enfrentar problemas desnecessários nessa caminhada.

A rigor, as chances de o governador fluminense atravessar uma turbulência política só devem acontecer após a CPI receber a quebra do sigilo nacional da Delta. Só no Rio de Janeiro, a construtora tem, desde o início do governo Cabral, em 2007, R$ 1,49 bilhão em obras contratadas. Quando a CPI começou a se preparar para quebrar o sigilo da construtora e convocar governadores, Cabral se movimentou. Aproximou-se dos amigos no Senado e, no PSDB, pediu para ser poupado. Conseguiu. “Não foi uma jogada política. Cabral tem muitos amigos no PSDB, ele já foi dos quadros do partido”, declarou o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), um dos aliados de Cabral na CPI.

Mas a situação gerou estresse em alguns setores do tucanato. No mesmo dia da votação na CPI, que aprovou as convocações dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF), no dia 30, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), lamentou a ausência de Sérgio Cabral. No dia seguinte, durante almoço com o presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), Alvaro Dias foi ríspido: “Eu estou tentando salvar o nosso partido e você deixa isso acontecer? O PSDB salva o Cabral?”, protestou, segundo apurou o Estado de Minas. Duas semanas depois, Guerra fez o mea-culpa e admitiu que o governador Marconi Perillo ficou mais em evidência após Cabral ser “desindexado” das investigações da CPI. O alívio momentâneo não foi suficiente para o governador fluminense e as pressões continuam.