Quadro independente dentro do partido, Perillo é visto pela direção da legenda como alguém que consegue ter um contato direto com as massas, habilidade importante no apoio a um candidato do partido à Presidência da República em 2014. Avalia-se que, a curto prazo, ele possa enfrentar dificuldades nas eleições municipais deste ano, mas nada ainda suficiente para embaçar o pleito de 2014, quando deve tentar a reeleição. Assim como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), há indícios de ligações entre o governador e Carlinhos Cachoeira. Agora, na CPI, Perillo tentará se proteger com a sua rede de apoio social e político. "Demóstenes tinha admiradores. Perillo tem seguidores", resumiu um político, contrariado com a possibilidade de o governador resistir à atual crise política.
O Estado de Minas apurou que a expectativa do PSDB quanto ao depoimento de Perillo é angustiante. O partido sabe que, depois de bradar durante três semanas que o dirigente estava à disposição dos integrantes da CPI para prestar todos os esclarecimentos necessários, ele tem a obrigação de conseguir encerrar as especulações que envolvem seu nome. "A situação se complicou com as denúncias de caixa dois da contravenção durante a campanha de 2010. A polêmica quanto à casa é matéria antiga. Mas receber dinheiro de bicheiro para pagar jornalistas é algo grave", resumiu um integrante da alta cúpula tucana.
A novela sobre a venda da casa onde Carlinhos Cachoeira foi preso, em 29 de fevereiro, começou a ganhar novos contornos após o depoimento de Walter Paulo de Oliveira Santiago. Dono da Faculdade Padrão e administrador da empresa Mestra, Walter Paulo afirmou que pagou a mansão em dinheiro vivo, no valor total de R$ 1,4 milhão. O depoimento contradiz as palavras do ex-vereador do PSDB Wladimir Garcez, que afirma ter comprado o imóvel com três cheques — dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil — obtidos com Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste.
Sonegação
O ar matuto de Walter Paulo desconcertou os integrantes da CPI. Os petistas saíram da reunião convencidos de que houve no mínimo por parte do governador Marconi Perillo, sonegação fiscal , já que o tucano declarou ter recebido apenas os três cheques, não admitindo o recebimento de qualquer quantia em espécie.
Em meio ao bombardeio, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), manteve o discurso de blindagem. "Estão revirando uma história antiga. Perillo está à disposição da CPI há três semanas e o PT fica adiando o depoimento para encontrar mais coisas. Ele tem que vir logo para esclarecer tudo de uma vez por todas", defendeu o senador. Em Goiás, a crise envolvendo Perillo parece enredo de filme distante. No interior do estado, não há sinais de perda de prestígio do tucano. É justamente onde o governador é mais forte, fruto de um governo, entre 1994 e 2002, amplamente focado na implementação de programas sociais e de distribuição de renda. O impacto negativo mais visível da crise do Cachoeira na popularidade de Perillo é verificado em Goiânia e na região metropolitana da capital, localidades onde o PT consegue competir em igualdade de condições com o PSDB — Goiânia é governada pelo petista Paulo Garcia.
Revogada prisão de Cláudio Abreu
A juíza da 5ª Vara Criminal de Brasília revogou a prisão preventiva de Cláudio Abreu, ex-diretor da construtora Delta no Centro-Oeste. Até o fechamento desta edição, a previsão era de que ele saísse nessa madrugada do presídio da Papuda, em Brasíia. Conforme a decisão tomada ontem, Abreu deve comparecer mensalmente perante o juízo e se abster de manter contato com os demais réus ou com outras pessoas citadas na denúncia.