Jornal Estado de Minas

Governador de Goiás enfrenta hoje a primeira batalha entre PSDB e PT na CPI do Cachoeira

Amanhã será a vez de o petista Agnelo Queiroz virar alvo na guerra partidária

Gabriel Mascarenhas

Brasília – O depoimento do governador do Goiás, o tucano Marconi Perillo, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira hoje será a primeira grande batalha da guerra que começa a ser travada entre PSDB e PT no colegiado. O discurso em defesa da apuração isenta dos fatos, reafirmado desde o início dos trabalhos da comissão, deu lugar a uma franca disputa partidária. Os petistas serão os primeiros a abrir fogo, usando os grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça, que mostram a relação entre Perillo e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O contra-ataque dos tucanos está marcado para amanhã, quando será ouvido o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).

As declarações de parlamentares do PT e do PSDB, ontem, deram a exata medida da disposição de ambos de tentar atenuar os danos aos seus respectivos correligionários e, ao mesmo tempo, bombardear o adversário. O clima no Congresso deixou claro que um suposto acordo firmado entre petistas e tucanos – para que ninguém tensione a corda durante os depoimentos, com objetivo de poupar Perillo e Agnelo – não passou de esboço. Ainda assim, parlamentares de outras legendas desconfiam de uma manobra de última hora. “Só amanhã (hoje) saberemos o que é boato e o que é acordo. Eu não acredito (em acordo), mas, caso haja, vai ficar muito claro ao longo da sessão”, resumiu o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ).

Embora afirme que o governador goiano deve ser questionado com contundência na CPI, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), classifica as denúncias contra Perillo como “fatos requentados”. “A versão que fica é que é publicada. Esperamos que se encerre esse capítulo hoje para podermos passar aos outros. O objetivo do PT é usar a CPI para tirar o foco do julgamento do mensalão, e Marconi é usado para tirar o foco de outros fatos graves, como os que envolvem a construtora Delta e o governo federal. Não queremos uma CPI chapa-branca, como está sendo esta”, defendeu Dias.

Laranjas

As bancadas do PT na Câmara e no Senado se reuniram à tarde para traçar a estratégia que será adotada na visita de Perillo à CPI. Os petistas vão concentrar a artilharia no negócio envolvendo uma casa que pertencia ao governador, onde Cachoeira foi preso pela PF, em 29 de fevereiro. Até agora, há diferentes versões sobre a venda da mansão, sobretudo no que diz respeito à forma de pagamento e ao verdadeiro comprador. Suspeita-se que o bicheiro tenha utilizado laranjas para adquirir o imóvel, localizado em um condomínio de Goiânia. Telefonemas mostrando uma suposta proximidade entre o governador e Cachoeira também serão explorados, assim como as denúncias de pagamentos de propinas a ex-funcionários do governo.

“A relação da organização criminosa em Goiás é muito forte, e Perillo não fez nada contra isso. Quem diz isso é a Polícia Federal. Já o caso de Agnelo é completamente diferente. Ele foi vítima da organização criminosa e não tem nada a explicar sobre isso”, disparou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), dando uma prévia dos ataques que serão feitos hoje. Líder do PDT no Senado, Pedro Taques (MT) criticou a partidarização do debate, deflagrada assim que as suspeitas se aproximaram de governadores de duas das principais legendas do país: “A CPI não pode ser do PT contra PSDB nem o contrário, mas sim uma comissão que busca a verdade. A CPI não pode ser usada com um instrumento de perseguição política”, afirmou Taques.

 Ontem, à noite, estava prevista uma outra reunião entre petistas para discutir estratégias a serem adotadas durante o depoimento.