Brasília – O trator governista entrou mais uma vez em ação e atropelou ontem qualquer tentativa de avanço na investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira. A pedido do relator Odair Cunha (PT-MG), a comissão adiou as convocações do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, aquele que garantiu comprar qualquer senador da República por R$ 6 milhões; e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) Luiz Antonio Pagot, candidato a homem-bomba da CPI. A oposição esperneou, ameaçou se retirar da sessão e decretou a “morte” da comissão. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), mesmo sendo da base governista, reagiu e denunciou uma “tropa de cheque”, formada por deputados e senadores, alguns deles integrantes da CPI, que teriam almoçado com Cavendish em Paris na semana santa, após viagem em missão oficial a Uganda, na África.
Ontem, quando o relator se posicionou contra a convocação de Cavendish, Ciro Nogueira foi o primeiro a se inscrever para apoiar o encaminhamento proposto pelo deputado Odair Cunha.
O termo “tropa de cheque”, que causou bate-boca e constrangimento, surgiu durante depoimento do governador Agnelo Queiroz (PT-DF), na quarta-feira, que se confundiu e trocou as palavras. Ele queria dizer que não tinha levado nenhuma “tropa de choque” para o plenário da comissão. Ontem, a expressão, repetida por Miro Teixeira, foi o combustível para início de uma grande confusão. “Eu não sou da bancada do cheque. O senhor precisa ter responsabilidade. Esta CPI tem foco. Chamar o Pagot aqui é para discutir contribuições de campanha. Isso não é foco da CPI. Temos que examinar a organização criminosa do senhor Cachoeira”, atacou Vaccarezza.
O parlamentar carioca rebateu. “Que medo é esse? É o medo da revelação da verdade. Esta comissão fica sob suspeita, sim. Revela uma tropa de cheque. Se eu tivesse um nome, faria uma denúncia”, afirmou Miro. No fim da sessão, ele encaminhou requerimento pedindo informações ao Senado e à Câmara para ter todo o detalhamento da missão oficial.
Notícia-crime
Com o adiamento dos depoimentos, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) resolveu criar uma espécie de CPI paralela para ouvir Pagot, com o apoio de outros integrantes, numa sala do Congresso. Miro ressaltou que o drible no relator não fere o regimento. “Vamos comunicar a notícia-crime e chamar um delegado da Polícia Federal para tomarmos o depoimento do Pagot por termo. Será uma sessão pública, presidida pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ele já topou e vai aproveitar a próxima semana, quando não haverá sessão, para conversar com o Pagot.”
O adiamento do depoimento de Cavendish foi aprovado por 16 votos a 13. No caso de Pagot, o placar ficou em 17 a 13. Após o resultado ser proclamado, um grupo de integrantes da CPI, grande parte da oposição, ameaçou se retirar da sala. O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder do partido na Câmara, disse que estava envergonhado. Mas pouco antes, o PSDB foi ridicularizado por ter apresentado requerimento pedindo a convocação da presidente Dilma Rousseff. A solicitação foi assinada pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Fernando Francischini (PSDB-PR), Domingos Sávio (PSDB-MG) e Vanderlei Macris (PSDB-SP). O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo, citando a Constituição federal, afirmou que nem iria receber o requerimento. Na próxima semana não haverá nenhuma sessão da CPI do Cachoeira. (Colaboraram Adriana Caitano e Karla Correia)