Era outro contexto na época. Ninguém imaginava que a arredia Dilma Rousseff se disporia a conceder um depoimento pessoal relatando as torturas sofridas em Minas. E mais: ninguém cogitaria que a ex-estudante do Colégio Estadual Central de Belo Horizonte viria a se tornar um dia presidente da República. A indenização mineira foi paga em março de 2002, 10 anos e dois meses antes da instalação da Comissão Nacional da Verdade, em Brasília. Só agora saiu a indenização a Dilma pelo Conedh do Rio de Janeiro, reivindicada em 2004. A presidente divulgou que vai doar a importância de R$ 20 mil ao Tortura Nunca Mais.
"No primeiro momento Dilma foi contra, mas depois entendeu a importância histórica do ato e acabou colaborando no processo", afirma. Antônio Aurélio se recorda que os membros do conselho foram ao Rio Grande do Sul coletar depoimentos de ex-presos políticos mineiros “exilados” naquele estado, mas não tinham esperanças de conseguir ouvir a então secretária das Minas e Energia. Na última hora, Dilma teria mudado de ideia. Segundo o promotor, "o fato de Dilma ter sido torturada mais barbaramente em outras unidades da federação não elide a ela desse merecimento, porque Dilma também foi vítima de constrangimentos aqui", defende.
Com o aval de Itamar, preocupado com a questão dos direitos humanos, foram criados programas que tiveram continuidade, como o Programa de Proteção a Testemunhas e o Disque Direitos Humanos. No entanto, na opinião do antigo integrante da Comissão Estadual de Indenização às Vítimas de Tortura (Ceivt) Robson Sávio, que ouviu Dilma em 2001, o então governador só se esqueceu de fornecer infraestrutura ao Conselho Estadual de Direitos Humanos. "Eu me sentia numa missão quixotesca", diz Robson.
Ainda hoje a comissão sofre com a precariedade das instalações no Maletta. Só conta com o apoio de voluntários e a boa vontade de jovens estagiários. "Meu maior sonho é digitalizar o passado de nossos militantes históricos, que está jogado nestas caixas de papelão", desabafa o presidente do Conedh-MG, o advogado e professor da PUC Minas, Emílcio José Lacerda.
"Há pouco interesse pelos nossos processos. Na época da última eleição à presidência, porém, tentaram ter acesso aos arquivos da Dilma. Mas tiveram azar, porque um dos nossos conselheiros levou o processo dela para casa e permaneceu com ele até o fim da campanha", comenta o professor, fiel aos princípios éticos e guardião de uma causa maior.