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Estado de Minas

Advogados confirmam tortura de Dilma Rousseff em Juiz de Fora

Fahid Tahan e Carlos Augusto Cateb, membros da Comissão da Verdade da OAB-MG, relatam que militantes de esquerda, como Dilma, sofreram castigos nos porões da cidade durante a ditadura


postado em 20/06/2012 07:11 / atualizado em 20/06/2012 09:48

Houve tortura em Juiz de Fora. Eu mesmo portei vários bilhetes que narravam as atrocidades cometidas - Carlos Augusto Cateb, advogado(foto: Beto Novais/EM/D.A Press)
Houve tortura em Juiz de Fora. Eu mesmo portei vários bilhetes que narravam as atrocidades cometidas - Carlos Augusto Cateb, advogado (foto: Beto Novais/EM/D.A Press)
Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, foi um dos principais palcos do horror vivido pelos militantes que tentavam derrubar o governo militar. É o que garantem dois renomados advogados mineiros que defenderam presos políticos durante a ditadura. “Não há como negar que houve tortura. Foi um instrumento institucionalizado. Basta olhar todos os processos de presos políticos. O preso político passou por tortura física ou psicológica”, afirma o advogado Fahid Tahan Sab, membro da Comissão da Verdade da Seção Mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG). Fahid foi advogado de vários presos políticos que estiveram em Juiz de Fora, incluindo alguns nomes de expressão da política nacional, como o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), e o ex-deputado federal e presidente da Fundação Perseu Abramo, Nilmário Miranda (PT). Na segunda-feira, o general de quatro estrelas Marco Antônio Felício da Silva disse em entrevista ao Estado de Minas que não houve tortura em Juiz de Fora.

Na análise de Fahid é uma vergonha para o país ter concedido anistia os torturadores. “É um crime contra a humanidade”. Fahid destaca uma questão: “Se os rapazes e as moças que pegaram em armas não têm vergonha de dizer que fizeram isso e têm até orgulho, por que os militares tentam esconder que houve tortura?”. O próprio advogado responde: “Os militares têm um verdadeiro horror de que a família deles descubra o passado. Que ele pegou uma pessoa subjugada para impor humilhações e torturas. A pena deles é a própria consciência”.

Quem também confirma as torturas praticadas em Juiz de Fora é outro advogado membro da Comissão da Verdade da OAB-MG, Carlos Augusto Cateb, que fez a defesa de diversos integrantes do Comando de Libertação Nacional (Colina), grupo da presidente Dilma Rousseff. “Houve tortura em Juiz de Fora. Eu mesmo portei vários bilhetes que narravam as atrocidades cometidas”, lembra.

Cateb foi advogado de Ângelo Pezzuti, um dos líderes do Colina. Foi por uma suposta troca de bilhetes entre Pezzuti e Dilma que a presidente foi torturada em Juiz de Fora, conforme revelou com exclusividade o Estado de Minas, em série de reportagens iniciada no domingo. A maneira como os bilhetes entravam e saíam do Presídio de Linhares, em Juiz de Fora, é sui generis e revela que apesar do poder e das armas, os militares podiam ser enganados com um pouco de esperteza.

“O pessoal dos movimentos confeccionava os bilhetes em papéis bem pequenos. Pegavam um maço de cigarro, tiravam o fumo dos cigarros, colocavam o bilhete enroladinho e colocavam o fumo novamente. Quando chegava para falar com o Ângelo vários militares armados ficavam observando a conversa. Mostrava o maço de cigarro, colocava em cima da mesa e começava a fumar. O Ângelo, ou outro preso, fazia a mesma coisa. No fim da conversa eu pegava a cartela de cigarro dele e ele pegava a minha. Enquanto estava preso, ele também fazia os bilhetes e levava para o pessoal do movimento”, relata Cateb.

O que atesta as péssimas condições em Linhares são as greves de fome feitas pelos presos políticos. A primeira foi em março de 1971, quando 42 homens e mulheres ficaram 13 dias sem comer. Cinco meses depois, 50 presos voltaram a fazer outra greve de fome.

Guerrilha

Cateb lembra que o acesso para Linhares era uma rua estreita, na beira de um rio, em que passava apenas um carro. A historiadora Isabel Cristina Leite fez um trabalho de conclusão de curso, em 2006, na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), focando o Colina. No trabalho, Leite escreveu sobre a Penitenciária de Linhares: “A Penitenciária Regional José Edson Cavalieri foi inaugurada em 1966 com presos vindos de Belo Horizonte. Ficou conhecida por Penitenciária de Linhares por causa da sua localização – o Bairro de Linhares, em Juiz de Fora. A recepção de presos políticos começou em 1967, com militantes presos na Guerrilha do Caparaó, contudo, somente em 1969 é que chegam os primeiros integrantes da guerrilha urbana – integrantes da Colina e Corrente.”

De acordo com a pesquisa da historiadora, os presos se referiam a Linhares como um purgatório. A frase usada pelos detentos era: “Sair do inferno e cair no purgatório”. Isso é, sair do local onde aconteciam as torturas e ir para a prisão. Porém, as torturas mais cruéis aconteciam fora da prisão. Como aconteceu com a presidente Dilma, que foi levada para outro local na cidade para ser torturada. “Os militares estavam empenhados em uma espécie de guerra sagrada para impedir um iminente perigo de revolução socialista”, diz Fahid, sobre a convicção dos militares.

Repercussão

Pravda (Rússia)
Documentos revelam detalhes da tortura sofrida por Dilma em Minas
A presidente Dilma Vana Rousseff foi torturada nos porões da ditadura em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, e não apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava até agora. É o que revelam documentos obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas , que até então mofavam na sala do Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), no Edifício Maletta, no Centro de Belo Horizonte.


Focus agence (Bulgária)
Dilma Rousseff fala de sua tortura por militares
De acordo com um relato autobiográfico inédito feito pela primeira presidente da nação sul-americana, publicado na segunda-feira em meios de comunicação, ela foi submetida a tortura regular. Rousseff, 64, contou suas experiências sob o regime militar no Brasil mais de uma década atrás.

Aufait (Marrocos)
A presidente do Brasil faz relato inédito da tortura que sofreu

Aos 22 anos, quando lutou contra a ditadura militar, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi torturada, incluindo sessões de choques elétricos e espancamentos que deslocaram sua mandíbula, de acordo com depoimento inédito dela publicado na mídia.

TM News (Itália)
Brasil: Presidente Dilma reconta tortura sofrida sob a ditadura
Era 1970, a atual chefe de Estado tinha 22 anos quando foi presa e encarcerada durante três anos no Rio, São Paulo e Minas Gerais, onde aos 16 anos ela se juntou aos guerrilheiros. Segundo estimativas oficiais, cerca de 400 brasileiros foram assassinados ou desapareceram durante a ditadura.

Gionarllettismo (Itália)
Eu, guerrilheira, fui torturada
O documento com o depoimento de Dilma Rousseff chegou ao jornal Estado de Minas, que publicou trechos. A presidente fala sobre uma série de ataques em Minas, incluindo sessões de eletrochoque e de pau de arara.


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