Brasília – Às vésperas de sua prisão, Carlinhos Cachoeira escalou um delegado da Polícia Federal, um advogado e um comparsa que tinha bom trânsito com a família de um magistrado para monitorar os trabalhos do juiz Paulo Augusto Moreira Lima, até então substituto da 11ª Vara Federal em Goiás e responsável por autorizar as escutas telefônicas e a prisão do bicheiro. Gravações feitas em 2, 6 e 8 de fevereiro deste ano registram a movimentação de Cachoeira em busca de informações.
Em outra ligação, Cachoeira pediu ao policial federal detalhes sobre o processo da 11ª Vara Federal. Byron afirmou que chegou a pedir para fazer parte do “grupo de corrupção” escalado para atuar no processo, mas foi impedido. “Segunda-feira eu dou uma olhada mais aprofundada porque hoje foi só assim, falei com o Raul rapidinho no corredor, porque não deu tempo de falar direito com ele. Aí, na segunda eu resolvo. Mas pode ficar tranquilo, é 11ª, é alguma coisa ligada ao grupo de corrupção”, afirmou Byron, prometendo dar detalhes a Cachoeira em 6 de fevereiro. O delegado também se referiu a uma “fonte” que teria na 11ª Vara Federal e que poderia informar se o processo que interessava ao bicheiro referia-se apenas a obras do Parque Mutirama ou se atingia integrantes da organização criminosa.
Apreensão
Em 8 de fevereiro, Cachoeira mostrava-se nervoso e procurava saber se o processo da 11ª Vara Federal teria mandado de prisão e de busca e apreensão. Diálogo entre o advogado Leonardo Gagno – que atualmente representa o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo – e um dos irmãos de José Olímpio Queiroga revela que um advogado de Cachoeira entrou com um pedido de certidão na 11ª Vara Federal solicitando informações sobre processos que o atingissem. Na iminência de a operação ser estourada, a principal preocupação do bicheiro era apagar provas concretas da atuação criminosa, uma vez que ele já sabia dos monitoramentos telefônicos.
“Henrique me falou que o advogado de Carlinhos Cachoeira entrou com um pedido de certidão lá e o juiz deu na hora a certidão falando que não existe nenhum processo contra o Carlinhos Cachoeira e que se existisse teria registro e seria informado a ele. O cara não ia botar o dele na reta dessa forma, botar isso no papel, e botou no papel”, afirmou o advogado em uma conversa gravada 21 dias antes da prisão de Cachoeira. O juiz titular da 11ª Vara Federal, Leão Aparecido, mantém vínculos de amizade com a família Queiroga. Um telefone do juiz teria entrado no grampo da PF, por supostamente ter sido usado pela mulher do magistrado.
Apesar de dividirem a 11ª Vara como substituto e titular, Moreira Lima tentou preservar as informações sobre o processo, temendo que a proximidade entre o titular e integrante da organização criminosa de Cachoeira pudesse comprometer o curso das investigações. Por isso, quando o advogado de Cachoeira solicitou certidão de citação em processos, tinha certeza do conteúdo da Monte Carlo, antes mesmo de sua prisão.