Em outro momento, Eleonora, que disse no texto não lembrar o nome dos torturadores, conta que pediu ao carcereiro uma revista para ler e que recebeu como resposta o catálogo telefônico de Belo Horizonte. O carcereiro então lhe disse: “Se quiser ler, leia isto que lhe fará muito bem, é divertido, é uma leitura leve e vocês terroristas não necessitam mais que isso, sobretudo as mulheres que têm filhas como você”.
A filha de Eleonora, Maria de Oliveira Soares, é um capítulo à parte nesta história, documentado no curta 15 filhos, disponível para download gratuito no YouTube. Publicitária e produtora que hoje mora em Nova York, ela viveu com a avó até os 3 anos. Só então se reencontrou com a mãe, que era socióloga e militava com o marido no Partido Operário Comunista (POC). Nessa e nas prisões seguintes de Eleonora, os militares ameaçavam voltar a capturar sua filha e também matar o marido dela, tentando arrancar confissões nos interrogatórios.
No filme 15 filhos é contado o drama da ditadura do ponto de vista dos filhos de militantes políticos que foram presos e torturados. Além de Maria, filha da ministra, assina a produção do filme a cineasta Marta Nhering, de 48. Aos 6 anos, ela perdeu o pai, Norberto Nhering, morto pelas forças da repressão em São Paulo, em 1960. “De início, a ideia era fazer um filme sobre a época da ditadura, mas ao começar a filmar os depoimentos dos sobreviventes começamos a ver que nós, filhos de militantes políticos, contávamos uma história parecida de dor, que havia sido sufocada pela censura”, explica.
Sem perdão A ministra Eleonora Menicucci foi ouvida ontem à noite pelo Estado de Minas, voltando da Rio %2b20, no Rio de Janeiro, onde se encontrou com a presidente Dilma Rousseff, mas não teve chance de conversar com a antiga companheira de militância em BH sobre a série de reportagens a respeito das torturas sofridas em Minas – que disse estar acompanhando. Por telefone, a ministra fez questão de ressaltar a importância do esclarecimento dos fatos pela Comissão da Verdade, para impedir que se repitam episódios de tortura: “A Comissão da Verdade será fundamental para recuperar a memória histórica da época da ditadura. O esclarecimento do que ocorreu naquele período servirá para evitar que se repitam as torturas vivenciadas por milhares de jovens brasileiros e também as que ainda existem hoje.”
Eleonora não se pronunciou quanto a nome de torturadores e manteve o mesmo tom do que havia dito anteriormente a presidente: “Não tenho ódio nem magoa, é um sentimento de não perdão, de superação. Sou uma pessoa que superei”, disse.