A Alerj vai convocar para quinta-feira uma sessão extraordinária para votar as contas de Cabral. Será a primeira vez em 15 anos que a Assembleia do Rio conclui esse processo no primeiro semestre. O governador é alvo potencial da CPI do Cachoeira no Congresso Nacional desde que foram divulgadas, no fim de abril, fotos e vídeos em que ele aparece confraternizando com o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, em festas, jantares e shows em Paris e Monte Carlo.
Em maio, a comissão rejeitou um requerimento para a convocação de Cabral, mas integrantes do colegiado admitiram que o depoimento do governador poderia ser novamente analisado caso surgissem novos fatos durante as investigações. Nos últimos cinco anos, as prestações de conta do peemedebista sempre foram aprovadas entre setembro e dezembro. As de 2009 só foram votadas em fevereiro de 2011.
A diminuta bancada da oposição na Alerj - formada por cerca de 10% do total dos deputados - ainda tentou adiar a votação das contas. Para esses parlamentares, a pressa na aprovação indica temor por parte do governo. "Só posso dizer que quem deve, treme", disse o líder do PSDB na Alerj, deputado Luiz Paulo. "O TCE fez dezenas de ressalvas e recomendações. Trata-se de um trabalho insano analisar isso tudo em curto espaço de tempo. É a primeira vez, em nove anos de mandato, que eu vejo uma prestação de contas ser aprovada tão rápido", argumentou o tucano.
Membro titular da Comissão de Orçamento, a deputada Janira Rocha (PSOL) apresentou voto em separado rejeitando a prestação de contas de Cabral. Em seu discurso, ela lembrou "a série de fatos políticos e denúncias que envolvem o governador e de parte de seus secretários" com escândalos e com a Delta.
Líder do governo Cabral na Alerj, o deputado André Corrêa (PSD) argumentou que a votação no primeiro semestre está ocorrendo justamente porque a administração estadual conseguiu "excelência na sua gestão orçamentária e fiscal". "Além disso, o governador está absolutamente tranquilo. Ele já tem quase 30 anos de vida pública e não há nenhuma denúncia ou processo contra ele", disse Corrêa. "Qual foi a ponte ou estrada construída de maneira irregular pela Delta no Rio?", questionou o parlamentar. Para o líder do PMDB, deputado André Lazaroni, trata-se de uma mudança de cultura. "A gente tem até dezembro para aprovar, mas a lei não diz nada sobre o prazo para a votação", argumentou Lazaroni.