Em meio a pior crise política dos seus cinco anos e meio de mandato, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) acionou seu rolo compressor na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para aprovar, em tempo recorde, as contas de 2011 de sua administração.
Os deputados da Comissão de Orçamento referendaram nesta terça-feira por seis votos a um o relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) que aprovara, com 10 ressalvas e 50 determinações, a prestação apresentada pelo governo estadual.
A Alerj vai convocar para quinta-feira uma sessão extraordinária para votar as contas de Cabral. Será a primeira vez em 15 anos que a Assembleia do Rio conclui esse processo no primeiro semestre. O governador é alvo potencial da CPI do Cachoeira no Congresso Nacional desde que foram divulgadas, no fim de abril, fotos e vídeos em que ele aparece confraternizando com o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, em festas, jantares e shows em Paris e Monte Carlo.
A diminuta bancada da oposição na Alerj - formada por cerca de 10% do total dos deputados - ainda tentou adiar a votação das contas. Para esses parlamentares, a pressa na aprovação indica temor por parte do governo. "Só posso dizer que quem deve, treme", disse o líder do PSDB na Alerj, deputado Luiz Paulo. "O TCE fez dezenas de ressalvas e recomendações. Trata-se de um trabalho insano analisar isso tudo em curto espaço de tempo. É a primeira vez, em nove anos de mandato, que eu vejo uma prestação de contas ser aprovada tão rápido", argumentou o tucano.
Membro titular da Comissão de Orçamento, a deputada Janira Rocha (PSOL) apresentou voto em separado rejeitando a prestação de contas de Cabral. Em seu discurso, ela lembrou "a série de fatos políticos e denúncias que envolvem o governador e de parte de seus secretários" com escândalos e com a Delta.
Líder do governo Cabral na Alerj, o deputado André Corrêa (PSD) argumentou que a votação no primeiro semestre está ocorrendo justamente porque a administração estadual conseguiu "excelência na sua gestão orçamentária e fiscal". "Além disso, o governador está absolutamente tranquilo. Ele já tem quase 30 anos de vida pública e não há nenhuma denúncia ou processo contra ele", disse Corrêa. "Qual foi a ponte ou estrada construída de maneira irregular pela Delta no Rio?", questionou o parlamentar. Para o líder do PMDB, deputado André Lazaroni, trata-se de uma mudança de cultura. "A gente tem até dezembro para aprovar, mas a lei não diz nada sobre o prazo para a votação", argumentou Lazaroni.