Jornal Estado de Minas

Senado vota cassação de Demóstenes no dia 11 de julho

João Valadares
O pedido de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), acusado de ser o braço político do esquema do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, aprovado nessa segunda-feira por unanimidade no Conselho de Ética, vai ser votado no plenário do Senado em 11 de julho. A garantia foi dada pelo presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), senador Eunício Oliveira (PMDB-CE). A defesa do parlamentar goiano tinha a esperança de jogar a votação para agosto e, dessa maneira, aproveitar o esfriamento do clima no Senado para salvar o mandato. O Congresso Nacional entra em recesso em 17 de julho. Para inviabilizar qualquer possibilidade de o processo ser votado somente após o descanso parlamentar, a Mesa Diretora, depois de entendimento de um grupo de senadores com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), marcou sessões ordinárias deliberativas em plenário na quinta e na segunda-feira.
A medida é necessária para a contagem de prazo exigida pelo Regimento do Senado. O relatório do senador Humberto Costa (PT-PE) chegou ontem à CCJ. “Vamos ter hoje (ontem) a primeira sessão ordinária do Senado. Na próxima quarta-feira, o processo será votado na comissão. Acabamos de acertar com o presidente Sarney para fazer sessão ordinária na quinta e na segunda para contar prazo”, informou Eunício Oliveira. Ele antecipou que não há nenhum motivo para o relatório não ser aprovado na CCJ.

Para não perder tempo, Eunício Oliveira indicou o senador Pedro Taques (PDT-MT) para ser o relator do pedido de cassação na CCJ. Mais uma derrota para Demóstenes Torres. Em várias oportunidades, Taques já declarou que vai votar a favor da perda de mandato do senador. No fim da tarde de ontem, após aceitar o convite, ele informou que tomará cuidado para que todos os trâmites legais sejam devidamente respeitados.

Em silêncio

Na tarde de ontem, o senador goiano pegou todo mundo de surpresa. Fez uma aparição relâmpago no plenário do Senado. Chegou, cumprimentou alguns colegas, marcou presença, participou de uma votação e foi embora rapidamente. Na saída, ao ser abordado por jornalistas, repetiu o mantra que tem proferido desde que surgiram as primeiras denúncias: “Falem com o meu advogado”. Ele deixou o plenário pelo acesso privativo.

O relatório apresentado no Conselho de Ética por Humberto Costa, que agora vai ser apreciado na CCJ, foi aprovado por unanimidade. Foram 15 votos a favor do pedido de perda de mandato. A votação foi nominal e aberta. Na CCJ, os membros vão analisar os aspectos constitucionais e jurídicos da questão.

Versão de Perillo é contestada

O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), está convencido de que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mentiu em seu depoimento ao colegiado, no dia 12, e não descarta uma nova oitiva do chefe do Executivo goiano. A convicção veio após a sessão de ontem, quando a CPI ouviu o arquiteto Alexandre Milhomem. Ele afirmou que o bicheiro gastou R$ 500 mil em decoração da casa que pertenceu a Perillo e onde o contraventor Carlos Augusto Ramos, Carlinhos Cachoeira, foi preso, em fevereiro. A oposição acusou Cunha de direcionar os trabalhos da CPI para comprometer ainda mais o governador tucano. Para o relator, ficou claro que o imóvel foi vendido por Perillo diretamente ao bicheiro e não ao ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, como o governador sustenta. “Alguém gastaria cerca de R$ 500 mil numa reforma de uma casa emprestada?”, questionou Cunha.