Brasília – O governo decidiu acionar seus ministros nessa quarta-feira para evitar a votação de projetos na Câmara que possam impactar as contas públicas. A preocupação imediata era com a votação do projeto sobre a jornada dos enfermeiros, incluído na pauta do dia, mas outros, com análise em plenário prevista para as próximas semanas – como os royaties do petróleo e o fator previdenciário – ajudaram a disparar a reação do Planalto. Em reunião com líderes partidários da Câmara, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, fizeram um apelo para que a Casa adiasse a votação do projeto que reduz de 42 horas para 30 horas a carga de trabalho de enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e parteiras. A sessão terminou sem que o projeto fosse votado. Apontado como o patrocinador da votação para desgastar o Planalto, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reagiu às críticas e responsabilizou os próprios ministros pela liberação do projeto para votação.
O presidente da Câmara disse acreditar que houve uma mudança de posição por conta do lobby do setor privado. "Estamos aqui falando dos grandes grupos privados", comentou. "Quem autorizou e disse que poderia votar isso, que não teria impacto nenhum para o governo, foi o ministro Alexandre Padilha", completou. Ele criticou indiretamente Ideli por não estar em sintonia com os líderes partidários, que assinaram requerimento pedindo a votação do projeto: "Há um requerimento assinado por todos os líderes partidários. Todos querem a votação. A ministra Ideli tem que conversar com seus líderes, com sua base".
Na reunião com os líderes pela manhã, os ministros disseram que a preocupação maior era com as prefeituras e entidades filantrópicas. Padilha deixou a reunião sem falar com a imprensa. Ideli admitiu que o governo estava preocupado com a pauta da Câmara e afirmou que a orientação é para que não fossem analisados projetos que aumentassem as contas públicas.
Após o encontro, os líderes foram ao plenário e a votação do projeto dos enfermeiros foi bloqueada pelo PT, que pediu verificação de quórum. Boa parte dos parlamentares tinha registrado presença na Casa e embarcado na sequência para seus estados por conta das convenções partidárias que definem os candidatos para as eleições de outubro.
O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentou defender a retirada do projeto e foi vaiado