Brasília – Em mais uma tentativa de convencer os colegas a votar contra a cassação de seu mandato, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) sustentou nesta terça-feira que as gravações da Polícia Federal que servem de prova contra ele foram manipuladas e obtidas de forma ilegal. Segundo o senador, a divulgação de trechos das gravações na imprensa serviram para manchar sua imagem.
Demóstenes disse que, combinadas, as ações desenvolvidas pela Polícia Federal e pela imprensa tornaram-se uma “máquina de moer reputação” da qual ele foi vítima. “O título da transcrição virava título das manchetes”, reclamou o senador, referindo-se aos agentes da Polícia Federal responsáveis pela gravações.
Nessa segunda-feira, Demóstenes, que tinha optado pelo silêncio, deixando a maior parte das declarações para seus advogados, adotou a estratégia de falar, todos os dias, na tribuna do Senado. O objetivo é tentar reverter a possibilidade de cassação de seu mandato.
Ele reclamou que seu direito à ampla defesa não foi respeitado pelas instâncias de investigação. “Para me investigar ilegalmente, utilizou-se tecnologia de ponta. Para me julgar, usam métodos medievais”, disse Demóstenes, que também reclamou de não ter obtido do Conselho de Ética uma perícia nas gravações, solicitação feita pela defesa durante o processo de quebra de decoro que resultou no pedido de cassação.
O discurso desta terça-feira foi o segundo feito por Demóstenes depois que o Conselho de Ética do Senado aprovou, por unanimidade, o relatório que pede a cassação de seu mandato. Ontem ele pediu desculpas aos colegas e informou que ocupará a tribuna até o dia do julgamento em plenário, marcado para o próximo dia 11.
Para cassar o mandato de Demóstenes são necessários 41 dos 81 votos dos senadores. A votação em plenário é feita de forma secreta.
O processo contra ele está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e já teve parecer favorável à constitucionalidade, emitido pelo relator, senador Pedro Taques (PDT-MT). Amanhã (4) o relatório do senador será lido e votado pela CCJ.
Demóstenes é acusado de relações estreitas com o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, suspeito de operar um esquema de jogos ilegais e tráfico de influência que contava com a participação de políticos e empresários.