Jornal Estado de Minas

Principal cabo eleitoral de Marcio Lacerda, Aécio Neves ataca nacionalização da campanha

Senador tucano justifica que Minas rejeita intervenção

Juliana Cipriani

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press Principal cabo eleitoral da campanha do prefeito Marcio Lacerda (PSB) à reeleição, o senador Aécio Neves (PSDB) pregou nessa quinta-feira a municipalização da disputa e afirmou que o PT tem, no seu DNA, a priorização de preocupações partidárias sobre o interesse público. “Aqui não é uma capitania de terceira linha, aqui é o estado de Minas Gerais”, disse em entrevista ao Estado de Minas. O tucano acredita que a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha adversária não será decisiva na escolha do prefeito da capital e lembra que a aliança PT-PMDB foi derrotada na disputa ao governo do estado em 2010, quando foi escolhido o tucano Antonio Anastasia. Segundo ele, o PT precisará construir outro discurso, já que, até sábado passado, havia decidido permanecer na aliança com Lacerda. Na avaliação do tucano, a disputa de outubro não terá impacto nas eleições presidenciais de 2014, quando Aécio se apresenta como potencial candidato.
O mote da campanha vai ser o combate à nacionalização?
As eleições municipais devem tratar dos temas municipais, prioritariamente pelo menos. Estou muito tranquilo porque nossa construção, que tem hoje 18 partidos, foi feita toda em Minas. Não precisamos pedir autorização de nenhuma outra parte do país. Isso nos dá legitimidade para construir aqui o nosso discurso. Os nossos adversários vão ter de construir outro porque até as 11h de sábado diziam que o Marcio era o melhor prefeito do Brasil. De uma hora para outra, porque seus caprichos não foram atendidos, ele deixa de ser. Minas rejeita esse tipo de intervenção externa. Aqui não é uma capitania de terceira linha, aqui é o estado de Minas Gerais, com tradição, com história e que tem brio, cultua seus valores. Então, estou muito confiante que o prefeito Marcio vai se identificar muito com a população de Belo Horizonte por ter sua candidatura legitimada aqui em Minas e não fora.

O senhor acha que a negativa da coligação do PSB com o PT para a eleição proporcional foi o real motivo dos petistas para o rompimento ou haveria outro?
É uma bobagem, uma coisa menor. O PT tem no seu DNA esse problema: sempre prioriza o partido, o interesse público vem em segundo plano. Foi assim ao longo da história, na eleição de Tancredo quando se negaram a dar o voto a ele quando o país queria isso, no Plano Real, quando votou contra a estabilidade econômica, pensando que perderia a eleição presidencial. Em BH, em nenhum momento o PT parou para pensar: será que é melhor eleger pelo menos dois vereadores e continuar ajudando a cidade a avançar já que participam desta administração ou fortalecer a legenda e desprezar o interesse da cidade? Prevaleceu para o PT o interesse do partido.

O senhor fala da incoerência do PT, que até ontem apoiava o Marcio e foi para o lado contrário. E o vice de Marcio Lacerda, Délio Malheiros (PV),que vinha se apresentando como nome de oposição? Não temem que isso possa ser usado pelos adversários?

Não sei, não acompanho tão de perto as críticas ao Délio. Sei que é um homem aqui de Minas, que tinha uma posição mais crítica em relação à Prefeitura e muito crítica em relação às administrações petistas anteriores. Ele ataca o aparelhamento da prefeitura, falou hoje em 20 mil cargos sem concurso público, então, tem uma contribuição a dar e isso é bom na política. O que ele percebeu foi que, no momento em que há uma interferência nacional para construir uma chapa do lado de lá e a eleição se polariza deste jeito, o seu espaço foi estreitado. Fez uma negociação política absolutamente legítima. Vai trazer senso crítico à prefeitura e isso é sempre muito bom.

Chegou a ser dito que o senhor estaria patrocinando ou incentivando outras candidaturas, algumas delas que acabaram se unindo a Marcio Lacerda agora. O senhor confirma?
Não tutelo ninguém. A presidente Dilma tinha aqui vários partidos da base dela com candidaturas diferentes, como eu tinha também partidos ligados a nós com candidaturas diferentes, que achavam que havia espaço no momento que só havia uma consolidada, a do Marcio. Eles fizeram uma avaliação de que, diante da polarização, esse espaço deixou de existir. A minha participação desde o início do processo de indicação do Marcio foi de absoluta solidariedade minha e do PSDB. Ao contrário do PT que, mesmo tendo uma parcela comandada pelo ministro Fernando Pimentel apoiando o Marcio, tem outra que não o tinha apoiado durante a campanha e uma terceira que durante todo o mandato atuou contra, liderada pelo vice-prefeito Roberto Carvalho.

Foi preciso uma restruturação da campanha em função da escolha de Patrus Ananias para disputar. Ele é o pior adversário?
Em eleição, a gente não pode escolher adversário, tem que estar preparado para a disputa política. O que posso dizer é que está sendo reeditada a disputa de 2010, com os mesmos contornos: uma aliança do PT e do PMDB com o apoio da presidente da República e do Lula, e uma candidatura construída em Belo Horizonte com o apoio das nossas forças políticas. Não sei qual será o resultado futuro, mas na última, esse conjunto de forças não foi feliz.

E como pretendem combater a participação do ex-presidente Lula na campanha, que promete ser intensa?
Acho legítimo que ele participe. Disse na eleição passada e vou repetir: o mineiro tradicionalmente recebe muito bem quem nos visita, mas nós costumamos decidir nós mesmos nosso destino e vimos isso na eleição de 2010.

Qual vai ser o papel do senhor na campanha?
Me coloquei à disposição do Marcio, a nossa estratégia vai ser sempre falar de Belo Horizonte e dos problemas reais da cidade. Vamos deixar essa tentativa de nacionalizar a campanha para aqueles que já iniciaram esse processo com as intervenções externas que foram feitas para construir uma chapa.