O presidente do PSD e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vai pagar um preço alto pela intervenção no diretório municipal de Belo Horizonte, para garantir apoio ao PT na briga contra o PSDB do senador Aécio Neves (MG) e o PSB do prefeito Márcio Lacerda, que busca a reeleição. Depois de amargar a primeira baixa no PSD, com a desfiliação de seu vice-presidente Roberto Brant (MG), Kassab enfrenta agora a primeira dissidência contra o comando partidário.
A porta-voz dos insatisfeitos com a "medida repentina de força" na capital mineira é a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Enquanto ela enviava ao prefeito uma carta protesto para manifestar "indignação e repúdio à intervenção arbitrária e clandestina", parlamentares do PSD já se movimentavam nesta terça para forçar uma reunião da executiva nacional. Os dissidentes querem exigir de Kassab o "compromisso moral" de que a intervenção "à la Belo Horizonte" não repetirá.
A falta de tempo para seguir o rito da política, reunindo dirigentes municipais e estaduais, foi a justificativa apresentada para a intervenção. O prefeito entendeu que manutenção da aliança significaria jogar o PSD prematuramente nos braços de Aécio, contra a presidente Dilma. Brant saiu da legenda dizendo que não foi sequer ouvido, o que fez Kátia Abreu dizer ao prefeito que ele abandonou "qualquer resquício de lealdade e respeito devido aos dirigentes". Mas Kassab afirma ter o apoio de quatro dos seis deputados do PSD mineiro.
Depois de divulgar sua carta nesta terça à tarde, a senadora recebeu oito telefonemas de deputados federais, prestando-lhe solidariedade contra o método arbitrário do prefeito. Aos que lhe cobraram o aviso prévio sobre a carta, manifestando desejo de aderir ao protesto, disse que não avisou a ninguém porque "não queria promover um motim, e sim fazer uma declaração de princípio".
De qualquer forma, até mesmo parlamentares mais próximos de Kassab entendem que ele não terá como escapar à reunião da executiva. Tanto é assim que os que se intitulam bombeiros desta crise não trabalham contra a ideia de levar a questão à direção partidária. Tentam apenas ganhar tempo para acalmar os ânimos e contornar o problema, evitando um levante contra o prefeito. Eles não escondem o temor de fazer um encontro de dirigentes no calor da intervenção.
O que mais preocupa é a reação da senadora, que diz abertamente que não se conforma com "essa truculência típica de um feitor". Kátia argumenta que uma medida dessa natureza não se decide "trancado em um quarto de hotel". Só seria aceitável uma intervenção decidida democraticamente, em reunião de emergência da executiva nacional. "Foi vergonhoso. Se fosse em cima de mim no Tocantins, me obrigando a coligar com o PT, seria a desmoralização total", diz a senadora.