Jornal Estado de Minas

Chegou o dia D para Demóstenes e a lisura no senado

A um dia do julgamento em que pode perder o mandato, Demóstenes faz discurso emocionado e diz ser vítima de "132 dias de massacre". Para o líder do governo, o senador é página virada

João Valadares
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Brasília –
Após quatro meses de denúncias graves sem explicações convincentes, pedidos públicos de perdão e sete discursos seguidos desde a última semana para tentar salvar o mandato, chegou o dia de o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) enfrentar o plenário do Senado Federal. A partir das 10h, os senadores selam, em sessão aberta e votação secreta, o destino político do homem acostumado a apontar o dedo da "ética" para colegas envolvidos em escândalos. Hoje, Demóstenes estará do outro lado. Deixa de ser algoz e passa a ser acusado. Entra completamente enfraquecido num plenário composto por algumas de suas vítimas. Nessa terça-feira, o sentimento entre os senadores nos corredores da Casa era de que não haveria escapatória. Após nove anos e meio de mandato, o parlamentar goiano deve mesmo deixar o Senado pela porta dos fundos, apesar dos apelos emocionais que fez ontem à Casa. "Demóstenes é página virada", resumiu o líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM).

O fato é que, pela primeira vez, o senador goiano vai experimentar o resultado da chamada "máquina de moer reputação", termo utilizado por ele mesmo para classificar o bombardeio de ataques que enfrentou nos últimos dias. Sabendo da dificuldade extrema, numa última cartada para sensibilizar os seus pares na véspera da votação, o senador resolveu atacar em duas frentes. Enquanto falava mais uma vez para um plenário vazio em tom emocional, os seus advogados batiam de gabinete em gabinete. Entregaram a todos os senadores um memorial com os principais pontos de sua defesa.

No mesmo momento em que Demóstenes acertava com os advogados, em seu gabinete, os últimos detalhes de sua defesa, uma reunião de líderes, ocorrida na tarde de ontem, definia o rito que será seguido hoje. Inicialmente, o relator do pedido de cassação no Conselho de Ética, senador Humberto Costa (PT-PE), fará uso da palavra por 10 minutos. Em seguida, pronuncia-se, pelo mesmo tempo, o relator na Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ), senador Pedro Taques. Depois, qualquer parlamentar pode se inscrever para debater a matéria. Passada essa fase, é a hora das alegações finais.

Em nome do PSOL, partido autor da representação contra Demóstenes no Conselho de Ética, o senador Randolfe Rodrigues (AP) pode utilizar 20 minutos prorrogáveis por 10. Logo em seguida, o representado terá direito a fazer sua defesa pelo mesmo tempo. Após ser cumprido todo o rito regimental, terá início o processo de votação com utilização do painel eletrônico do Senado. A expectativa é de que a sessão dure entre quatro e cinco horas. Os advogados do senador o orientaram a falar de improviso.

Bombardeio

Nessa terça-feira, não teve improviso. O discurso foi preparado. Durante pouco mais de 10 minutos, Demóstenes repetiu que vive o pior momento de sua vida. "Cheguei até aqui vivo, após 132 dias de massacre, num bombardeio sem precedentes. Toda semana nas revistas, todo dia nos jornais, toda hora nos sites, todo minuto nos blogs, todo segundo nas redes sociais, a todo momento na tevê e em muitas notícias inventadas para me colocar, inclusive, contra parlamentares. Cento e trinta e dois intermináveis dias sofrendo o tempo inteiro as mais horrendas ofensas, sendo chamado pelos nomes mais ferozes, sentindo na pele a campanha incessante de injúrias, calúnias e difamações", discursou.

Ele declarou que vai entrar hoje no plenário com o sentimento de ter conseguido transpor todos os obstáculos, exceto um: “A votação de amanhã (hoje), quando o Senado vai escolher que futuro pretende. Se de insegurança jurídica, em que qualquer de seus integrantes terá de ser eliminado para atender à sanha acusatória, ou um amanhã justo, respeitando-se os direitos dos representados, sem pressa". Se Demóstenes for cassado, ficará inelegível por oito anos contados a partir do fim do mandato para o qual havia sido eleito. Desta maneira, só poderá concorrer a um cargo político em 2027.