Jornal Estado de Minas

Situação de prefeito de Palmas complica depois de depoimento à CPI

Gabriel Mascarenhas
Brasília – O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), saiu da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira em situação mais crítica do que entrou. Respostas como "não sei" e "não me recordo", além da ausência de uma explicação contundente sobre os contratos sem licitação assinados com a construtora Delta e questionados pelo Ministério Público do estado (MP-TO), deixaram a certeza para quase todos os parlamentares presentes à sessão de ontem que o nome do comandante do Executivo palmense constará na lista de pedidos de indiciamento a ser enviada pelo colegiado para o Ministério Público Federal após a investigação.
O prefeito, flagrado em um vídeo oferecendo facilidades ao contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em troca de financiamento de campanha, colocou à disposição do colegiado a quebra de seus sigilos telefônico, fiscal e bancário. Ele negou ter recebido R$ 150 mil e o patrocínio do bicheiro para realizar um show do cantor Amado Batista para promover sua campanha à prefeitura em 2004.

Indagado qual era sua motivação ao sugerir facilidades a Cachoeira, o depoente deu a entender que sua intenção era ludibriar o contraventor, segundo ele, única alternativa para convencê-lo a doar recursos. "Mesmo que quisessem ajudar, os empresários tinham medo de doar a candidatos da oposição. Gerei uma falsa expectativa para ele. Não há nada que vincule Cachoeira à Prefeitura de Palmas. Somos vítimas de uma coisa que acontece no Brasil: estão nos colocando como boi expiatório (sic)", argumentou, tentando referir-se à expressão bode expiatório.

De acordo com Raul Filho, nos últimos seis anos, a Delta assinou cinco contratos com o município para promover a coleta de lixo, entre outros serviços, sendo quatro deles sem licitação, e recebeu cerca de R$ 70 milhões. A Polícia Federal aponta Cachoeira como sócio oculto da empreiteira. Raul Filho afirmou que só encontrou o bicheiro duas vezes, a primeira delas em 1994. Ele disse que não tinha conhecimento da gravação e que, em 2004, encontrou-se com o contraventor por sugestão de um amigo, mas que não sabia qual ramo de atuação de Cachoeira.

Se as evidências já expunham Raul Filho, a ausência de apoio do seu partido tornou ainda mais complicada a situação dele. Durante a sessão de ontem, nenhum correligionário do prefeito pediu a palavra para defendê-lo ou fortalecer os poucos argumentos que ele apresentou. Campo aberto para a posição e até integrantes da base triturá-lo com perguntas sem resposta e ataques explícitos. "Então aquele vídeo em que o senhor entrega Palmas à quadrilha de Cachoeira é ficção?", disparou o deputado Rubens Bueno (PPS-PR).