Demóstenes Torres, ex-senador da República, cassado nessa quarta-feira em sessão histórica por 56 votos a 19 por quebra de decoro parlamentar após denúncias de envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, voltará em breve ao Ministério Público de Goiás (MPGO) para atuar como procurador de Justiça. Acusado de ser o braço político de uma organização criminosa, Demóstenes, segundo da história a perder o mandato em plenário, terá agora novamente uma caneta na mão para denunciar quadrilhas como a do amigo Cachoeira.
A informação de que Demóstenes retornará foi confirmada, na tarde de ontem, pela defesa do ex-parlamentar, com a alegação de que ele precisa “se sustentar”. Ainda não há uma data fechada, mas a expectativa é de que o regresso ocorra já na semana que vem. Procurado pelo Estado de Minas, Benedito Torres não quis falar sobre o assunto. O nome Demóstenes significa um profundo desconforto. Em um dos diálogos, em 16 de maio de 2011, Cachoeira pede ao senador que converse com seu irmão para que interceda contra a transportadora Garbano, que estaria em área incômoda para o bicheiro. Em outra ligação, Demóstenes retorna a Cachoeira, alegando ter acertado com Benedito Torres o cumprimento da ordem do bicheiro: "Tratei com ele aquelas duas questões, diz que vai resolver, falou?".
Ontem, Demóstenes foi o primeiro a entrar no plenário. Ficou sozinho por alguns minutos. Observou atentamente um a um dos senadores que se acomodavam em suas cadeiras. Poucos o cumprimentaram. O comparecimento quase total dos parlamentares era o prenúncio de que não havia como escapar. Assim que José Sarney pronunciou o resultado, Demóstenes se levantou da cadeira e saiu pelo acesso restrito a parlamentares. Em três minutos, estava fora do Congresso.
O ex-senador permaneceu inerte durante todos os pronunciamentos. O primeiro a falar foi o senador Humberto Costa (PT-PE), relator do pedido de cassação no Conselho de Ética, que reforçou que Demóstenes colocou o mandato a serviço do crime organizado. Após pronunciamentos de outros seis senadores, chegou o momento das alegações finais.
No ataque Demóstenes aproveitou seu último ato para voltar a exercer as características pelas quais ficou conhecido. Com eloquência e frases incisivas, caiu atirando. Nem de longe lembrava o senador quase fantasma que perambulava pelo plenário nos últimos dias. Estava de volta aquele parlamentar que apontava o dedo para os colegas envolvidos em escândalos. Atacou o senador Humberto Costa: "Não se julga a adjetivação, julgam-se os fatos. Chamar uma mulher de vagabunda é algo que a crucifica para o resto da vida. Como é que ela vai se defender? Como é que ela vai provar a sua honestidade? Como é que ela vai provar a sua honradez, se, desde o início, ela foi jogada no chão?" Ao se dizer vítima do massacre da imprensa, o senador declarou que estava arrependido pela postura que adotava no passado contra os colegas. Mais tarde, pelo Twitter, prometeu tentar reverter a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). "Vou recuperar no STF o mandato que o povo de Goiás me concedeu", disse o senador, que ainda culpou a esquerda pela cassação.