Jornal Estado de Minas

Candidatos à PBH têm pontos vulneráveis que devem virar alvo do adversário

Juliana Cipriani
- Foto: Marcelo Santanna/EM DA PressQuem não tem nenhum pecado que atire a primeira pedra. Na campanha pela Prefeitura de Belo Horizonte, é melhor que o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias (PT) não tomem a iniciativa ou poderão sair chamuscados. Os dois lados se verão obrigados a explicar alguns pontos de suas candidaturas que podem acabar se tornando armas nas mãos dos adversários. Problemas com os atuais vices, campanhas anteriores ou posicionamentos tomados antes do período eleitoral são alguns dos "calos" que podem ser usados como argumentos nos debates.
A escolha do vice pode render críticas a ambos os lados. O petista Patrus Ananias tem como companheiro de chapa o peemedebista Aloísio Vasconcelos, ex-deputado e ex-presidente da Eletrobrás, que traz na bagagem o peso de sua forte ligação com o ex-governador Newton Cardoso (PMDB). O engenheiro foi secretário do Gabinete Civil do Estado de Minas Gerais em 1989, quando Newton estava no comando do Palácio da Liberdade, e, nos bastidores, a articulação de Newton agora para emplacar Aloísio como vice teria sido forte.

Do lado de Lacerda, a adesão de última hora do deputado estadual Délio Malheiros (PV) também pode municiar ataques. Isso porque até poucas horas antes de anunciar a aliança, o parlamentar era candidato de oposição ao socialista, a quem chamou de "déspota". Além de participar de reuniões com adversários do prefeito e acusá-lo de tentar cooptar candidaturas, chegou a decretar: estaria com qualquer um que se colocasse contra Lacerda.

O passado também pode virar munição nas mãos do rival nas urnas. Em 2006, o PT de Patrus Ananias apoiou a campanha de Newton Cardoso ao Senado. O partido, que em 1989 encaminhou um pedido de impeachment contra o então governador peemedebista, acabou se aliando a ele e fazendo campanha por Newton Ao Senado, junto com a candidatura de Nilmário Miranda ao governo. Patrus apoiou atos de campanha de Newton.

- Foto: Alexandre Guzanshe/EM DA PressLacerda, porém, não teria muitos argumentos para criticar diretamente Patrus, tendo em vista que o convidou e ele foi conselheiro da prefeitura até semana passada. Aliás, o PT, até o início da campanha eleitoral, comandava o núcleo duro do governo do socialista. Eleito com o apoio dos petistas em 2008, Lacerda deixou até o início do mês com o partido a missão de chefiar pastas importantes, como a de Obras, Educação, Planejamento, Orçamento e Informação, Políticas Sociais e Finanças. Em outras palavras, criticar o modo de administrar petista seria de certa forma criticar o próprio governo.

Vindo do ramo empresarial, o socialista também é conhecido pela inabilidade política que às vezes o deixa em enrascadas que podem ser um prato feito para o adversário. No início desta semana, por exemplo, Lacerda fez uma visita surpresa a um posto de saúde para saber se o atendimento estava adequado. Constatou que havia só um médico trabalhando porque outro estava de férias. Horas depois, numa atitude pouco comum a um político experiente em época de campanha, mandou sua assessoria avisar à imprensa que iria exonerar a gerente do posto. Na quarta-feira, outro escorregão: Lacerda disse numa entrevista que a Prefeitura de Belo Horizonte estaria em boas mãos seja com ele ou com Patrus.

Contas Mas não é só isso que os candidatos têm a temer nos debates durante a campanha. Patrus quase fica impedido de se candidatar por ser conta-suja. Vice na chapa do candidato derrotado ao governo em 2010, Hélio Costa (PMDB), teve junto com ele as contas de campanha rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por causa de irregularidades no gasto de R$ 9,5 milhões, ou 30,21% do total investido. A principal pendência foi no gasto com pessoal. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) havia aprovado as contas com ressalva, mas as prestações retificadoras apresentadas por Costa não foram suficientes para sanar o problema. O candidato petista só pode estar agora na disputa pela prefeitura porque uma decisão do TSE, poucos dias antes do fim do prazo para registro de candidatura, liberou os contas-sujas na eleição.

Do lado de Lacerda, as contas foram aprovadas, mas pode pesar contra ele uma outra contabilidade: a redução dos investimentos no Orçamento Participativo, uma das principais bandeiras do PT, que criou o instrumento para participação popular. O programa teve uma queda de 67% em 2012 em relação ao que foi destinado em 2011, passando de R$ 183,9 milhões para R$ 110 milhões. A verba lançada para 2013/2014 é de R$ 130 milhões. Segundo balanço do OP, em 2011, o programa recebeu 32,8% do previsto.

Patrus
CALCANHAR DE AQUILES
Seu vice, Aloisio Vasconcelos (PMDB), é ligado ao ex-governador Newton Cardoso, de quem foi secretário de Gabinete Civil do Estado de Minas Gerais, em 1989

Junto com o PT, esteve em campanha com Newton Cardoso para o Senado em 2006. A aliança foi considerada duvidosa, já que nos anos 1980 foi o PT que pediu o impeachment do então governador do estado.

Candidato a vice na chapa de Hélio Costa (PMDB) ao governo de Minas em 2010, teve as contas de campanha rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, o que quase o impediu de concorrer nestas eleições.


Lacerda
CALCANHAR DE AQUILES
Tem como vice o deputado estadual Délio Malheiros (PV), que até a véspera do registro de candidatura o tratava como inimigo e dizia estar com todos que contra o prefeito estivessem.

Era aliado do PT e cedeu ao partido os principais cargos na PBH. Seu adversário, Patrus Ananias, foi, a seu convite, conselheiro político da prefeitura.


Reduziu a verba do Orçamento Participativo, principal bandeira das administrações petistas, durante o