Brasília – Numa tentativa de salvar a CPI do Cachoeira, praticamente na estaca zero após três meses de investigação, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), acabou admitindo, durante entrevista coletiva na manhã de ontem, que vai mudar a estratégia. A ordem é recuperar o tempo perdido, grande parte consumido por brigas partidárias entre o PT e o PSDB. O novo cronograma de depoimentos, que será divulgado na próxima semana, vai priorizar os depoentes que desejam falar. Dos 24 depoentes convocados, 13 permaneceram em silêncio.
Ele preferiu não opinar sobre o pedido de reconvocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Disse ainda que o requerimento, protocolocado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), na terça-feira, não seria tratado como prioridade. “Não tem prioridade. Na próxima reunião administrativa, os 280 (requerimentos) estarão para ser votados, e este da reconvocação do Perillo também”, ressaltou. O governador de Goiás voltou ao foco após denúncias de que ele teria recebido R$ 500 mil de propina, paga pela bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para liberar R$ 9 milhões do governo de Goiás para quitar faturas atrasadas da construtora Delta.
Ele respondeu às insinuações do PSDB que dados bancários de algumas contas abastecidas pelo esquema Cachoeira estavam sendo bloqueados propositadamente pela CPI. “Não há nenhum direcionamento nos trabalhos da CPI. A presidência tem agido de forma isenta. Os ataques são políticos e a gente respeita as posições partidárias. Tenho um volume imenso de transferências bancárias. Peço que me traga o elemento factual. Eu encaminho ao Bando Central e eles encaminham à presidência", afirmou.
Agente da PF
Questionado sobre o assassinato do agente da Polícia Federal que investigou o esquema Cachoeira, Vital do Rêgo salientou que é mais prudente esperar o desfecho da investigação policial sobre o caso. "Inicialmente, é um caso da polícia. Já acionei os órgãos de acompanhamento da PF. Se houver algum tipo de envolvimento com o fato determinante, vamos tomar as providências."
No balanço apresentado, o presidente da CPI declarou que foram promovidas 21 sessões, sendo 14 para oitivas de testemunhas e inquirição de indiciados e outras sete de caráter administrativo. Ao todo, foram aprovados 480 requerimentos dos 715 apresentados. Desse total, a comissão solicitou informações de movimentações bancárias de 82 pessoas físicas e jurídicas, 80 em relação a dados fiscais e 78 referentes a cruzamentos telefônicos.
Suspeitas
A investigação sobre a morte do agente da Polícia Federal Wilton Tapajós Macedo, assassinado na terça-feira em Brasília, foca agora duas hipóteses: morte por encomenda ou acerto de contas. Colegas de trabalho de Tapajós, que atuou na investigação contra o empresário Carlinhos Cachoeira, relataram a policiais que ele poderia ter dívidas com agiotas. Os investigadores já têm um retrato falado de um dos suspeitos, feito a partir de informações de um coveiro do Cemitério Campo da Esperança, onde Tapajós foi morto com dois tiros na cabeça. Ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a PF está trabalhando de "forma intensa" para apurar o motivo do assassinato. No entanto, ele não quis relacionar o crime ao trabalho do agente na operação que levou Cachoeira à prisão. Para Cardozo, é preciso evitar especulações. A Polícia Civil do Distrito Federal também investiga o crime.