Advogados da offshore Durant admitiram em documentos entregues à Justiça de Jersey que a família de Paulo Maluf controlava contas na ilha britânica do Canal da Mancha. Admitiram ainda que o próprio Maluf recebeu “comissões” nessas contas. Os papéis foram anexados ao processo no qual a Prefeitura de São Paulo tenta recuperar US$ 22 milhões que diz terem sido desviados de obras da gestão Maluf, entre 1993 e 1996.
Os advogados da Durant, porém, sustentam que o dinheiro nas contas do paraíso fiscal era originado de “negócios legítimos”. Um dos pagamentos que foram parar numa conta em Jersey, segundo os advogados, se referia a uma comissão recebida pelo ex-prefeito após ele intermediar a venda de empresas.
Já os advogados da Prefeitura sustentam que o dinheiro é de corrupção: foi enviado a Jersey nos anos 1990, em rota que incluía a Mendes Júnior, empreiteira que ajudou a construir a Avenida Águas Espraiadas (rebatizada de Jornalista Roberto Marinho), doleiros e contas em Nova York, nos EUA. Para a prefeitura, está clara a estratégia de defesa de Maluf: ela reconhece que o dinheiro e as contas existiam, mas insiste que, no máximo, o ex-prefeito cometeu evasão fiscal, o que não seria crime suficiente para que Jersey devolvesse os ativos aos cofres brasileiros. O paraíso fiscal está disposto a colaborar em casos de corrupção, mas não evasão fiscal.
Novas provas
Apesar de a conclusão do julgamento sobre os valores congelados na ilha estar previsto para hoje, o juiz Howard Page deverá dizer apenas nas próximas semanas se aceita ou não a devolução do dinheiro ao Brasil.
Ontem, o advogado contratado pela Prefeitura de São Paulo, Stephan Baker, apresentou novas provas que, segundo ele, confirmam as transferências de dinheiro entre a construtora Mendes Júnior e as contas de Maluf no exterior, o que obrigou o juiz a dar mais um dia para que a defesa respondesse. Além disso a visita do príncipe Charles à corte também obrigou a suspensão do julgamento por três horas.
Baker mostrou transferências e extratos bancários que sustentam a tese de testemunhas segundo a qual a Mendes Júnior emitia notas superfaturadas e que a diferença era depositada em contas de Maluf - executivos da empreiteira foram denunciados criminalmente na semana passada pelo Ministério Público de São Paulo justamente no caso da Av. Águas Espraiadas.
A nova prova irritou os advogados da empresa controlada pela família Maluf. Eles alegaram que os dados não eram conhecidos e que a prefeitura esperou até o último dia para apresentá-los. O próprio juiz não escondia surpresa. “Como é que isso é apresentado só agora?” Os advogados da prefeitura disseram que, ao ver que seus documentos foram acusados de serem falsos pela defesa de Maluf - tese apresentada anteontem -, tiveram de se defender.