Servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em greve há mais de 30 dias lotaram nesta terça-feira o auditório onde tomava posse o novo presidente do órgão, Carlos Guedes de Guedes. Leram um manifesto solicitando avanços na negociação por melhores salários. Presente na cerimônia, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, lembrou a crise internacional, que afeta a arrecadação, para dizer que o momento não é indicado para discutir questões salariais. Mas o ministro afirmou que, na medida do possível, o governo tentará atender às reivindicações dos servidores.
Pepe negou que o contingenciamento de verbas esteja prejudicando a reforma agrária e argumentou que o cronograma de liberações para compras de terras está sendo respeitado. O novo presidente do Incra, Carlos Guedes de Guedes, integra no PT a corrente Democracia Socialista, a mesma do ministro Pepe, que negou favoritismo na escolha do assessor. "Nosso governo não trabalha com esta lógica. No MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) têm pessoas de vários setores do PT e pessoas sem alinhamentos com correntes políticas", disse.
O novo presidente do Incra evitou falar sobre metas e argumentou que a prioridade, tanto nos assentamentos já existentes como nos que vierem a ser criados, será primeiro resolver questões como licenciamento ambiental e acesso à saúde. Ele diz que é preciso criar comunidades rurais, "onde as pessoas possam viver bem, com qualidade de vida, produzindo e preservando o meio ambiente".
Guedes afirmou que uma das dificuldades enfrentadas pelo Incra é acompanhar a valorização dos preços das terras, que subiram 50% nos últimos três anos. Ele diz uma das prioridades será o levantamento para identificar as regiões do Brasil "onde a concentração fundiária é responsável pela estagnação econômica e pela presença da pobreza extrema".
Ao deixar o cargo, o ex-presidente do Incra Celso Lisboa de Lacerda criticou a agricultura empresarial como "concentradora e excludente". Já o novo presidente considera possível a convivência do agronegócio com a agricultura familiar e os assentamentos de trabalhadores rurais, como na região do "Matopiba", que engloba áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.