Jornal Estado de Minas

Cachoeira se recusa a falar no Tribunal de Justiça do Distrito Federal

Contraventor mantém silêncio, mas comparsa confirma que a organização criminosa tentou fraudar licitação para comandar um sistema de bilhetagem eletrônica no Distrito Federal

Josie Jerônimo

Brasília – Uma semana depois de deixar a audiência do processo a que responde na Justiça Federal de Goiás sem dar explicações, o bicheiro Carlinhos Cachoeira conseguiu se livrar novamente de depor em outra ação. Ontem, ele foi conduzido da Penitenciária da Papuda para a sede do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) para responder às acusações do processo gerado pela Operação Saint-Michel, trabalho da Polícia Civil que investigou a atuação da organização criminosa comandada por Cachoeira em Brasília.
Após o depoimento das testemunhas, Cachoeira e outros seis réus do processo alegaram que só falariam após a Justiça receber o relato de dois outros depoentes, que se apresentariam por carta precatória. Gleyb Ferreira da Cruz, apontado pelas investigações da Saint-Michel e da Monte Carlo como um dos operadores de Cachoeira, foi o único réu a falar ontem. Decidiu responder os questionamentos, pois pleiteia deferimento de pedido de revogação de prisão, ou que o confinamento seja substituído por medida cautelar.

No depoimento, Gleyb fez acusações a Cachoeira, afirmando que o bicheiro queria 50% de participação se conseguisse emplacar uma empresa de sua indicação em licitação do sistema de bilhetagem eletrônica no Distrito Federal. Gleyb também confirmou que era funcionário de Cachoeira, responsável por intermediar contato com empresas. O advogado de Gleyb, Douglas Messoura, afirmou que o cliente era um "preposto". "Ele funcionaria como um preposto. O erário não sofreu prejuízo, tentativa não é crime", afirmou o advogado, comentando a afirmação do réu sobre negociação de comissão de 50% comandada por Cachoeira.

 

Por ter o objetivo de mostrar boa vontade com a Justiça ao pleitear o relaxamento da prisão, o depoimento de Gleyb pode ter sido o mais incisivo contra Cachoeira até agora. A audiência, no entanto, foi marcada por falhas de organização por parte do tribunal. Os jornalistas foram impedidos de entrar na audiência pública graças à negativa da juíza da 5ª Vara Criminal de Brasília Ana Cláudia Barreto. Os assessores do tribunal alegaram que usariam o microblog Twitter para informar o que estava ocorrendo na audiência pública. No entanto, os relatos na rede social traziam informações desencontradas e recontextualizadas pela própria assessoria.

Defesa

Na audiência de ontem, o advogado Rafael Tucherman, do escritório de Márcio Thomaz Bastos, representou Cachoeira, mas hoje seu novo defensor, Ricardo Sayeg, assinará a procuração para substituir o ex-ministro da Justiça no caso. Sayeg fez críticas veladas ao "estilo" do escritório antecessor. "Vou mudar tudo, é outro estilo. Na minha ótica, enquanto o cliente não for posto em liberdade, o advogado não deve descansar. No caso do juiz Nicolau dos Santos Neto, eu impetrei 33 recursos. Com todo respeito, sem fazer juízo do que foi feito até agora", afirmou Sayeg.