Brasília – Julgar um processo de 50 mil páginas e que envolve 38 réus e 47 advogados é uma tarefa naturalmente demorada. Depois de seis anos de trâmite no Supremo Tribunal Federal, os representantes dos acusados contribuíram ontem para atrasar ainda mais o desfecho do caso. A apresentação de questões de ordem no plenário tomou praticamente todo o primeiro dia do julgamento do mensalão.
O procurador-geral acusou os advogados de atuarem para atrasar o cronograma. “Como ficou evidenciado nessa sessão inicial, a defesa se esforça para protelar o julgamento. O Ministério Público não pode contribuir de qualquer forma para que isso aconteça. Pelo contrário, o MP tem que atuar no sentido de que o julgamento se inicie o mais rapidamente possível e que seja concluído também no menor tempo”, afirmou Gurgel. “Tenho certeza que o presidente e a Corte terão a firmeza necessária para levar adiante o julgamento com o menor atraso possível.”
Gurgel acredita, entretanto, que o atraso de apenas um dia poderia ser compensado ao longo das próximas sessões. “Pode haver eventualmente a convocação de uma sessão fora daquele calendário”, argumentou. Ele lamentou que o debate acerca da questão de ordem levantada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos sobre o desmembramento do processo tenha tomado toda a tarde de ontem. “Foi uma pena ter um dia praticamente consumido com uma questão que já havia sido apreciada e decidida inúmeras vezes”, comentou.
Audiovisual negado
Advogados de defesa no caso do mensalão negaram que a apresentação de questões de ordem tenha relação com uma tentativa de atrasar o julgamento. O advogado Alberto Zacharias Toron, que representa o deputado João Paulo Cunha e tentou apresentar uma questão de ordem durante a sessão de ontem, indeferida, acredita que o atraso vai suscitar problemas. “Se o (Cezar) Peluso quiser adiantar seu voto e alguém disser que não pode, como é que fica?”, questiona, refererindo-se à possibilidade de o ministro não ficar até o fim do julgamento, já que se aposenta em 3 de setembro.
O STF já havia rejeitado o pedido de Toron de uso dos recursos audiovisuais na sessão de quarta-feira pelo placar de cinco votos a quatro. Mas ontem, logo depois da decisão que negou o desmembramento, ele subiu à tribuna para tentar ressuscitar o assunto, com o argumento de que, no momento da decisão, o quórum não estava completo.
Para o advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que representa o presidente do PTB, Roberto Jefferson, o Supremo não pode impedir os defensores de apresentarem questões de ordem, quando eles avaliarem que são necessárias. Antes de fazer sua sustentação oral, ele promete questionar os ministros sobre o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter ficado de fora da denúncia. “Houve uma recusa de inclusão de Lula no processo, mesmo diante de provas, e vou tratar disso quando tiver a palavra”, afirmou Barbosa.