Jornal Estado de Minas

Partidos de oposição evitam as ruas para se manifestarem durante julgamento do mensalão

Paulo de Tarso Lyra
As ruas desertas e o vazio na praça dos Três Poderes no primeiro dia de julgamento do mensalão expressaram a dificuldade que os partidos de oposição têm para mobilizar pessoas e protestar contra o governo. Eles reviveram um fantasma de 2005, quando, no auge do escândalo — no dia em que o marqueteiro Duda Mendonça admitiu ter recebido dinheiro de caixa 2 na campanha de Lula em 2002 — PSDB, DEM e PPS abandonaram a ideia do impeachment porque sabiam que não teriam força nas ruas para pressionar por uma votação de afastamento no Congresso.
Nessa quinta-feira, os presidentes dos três partidos admitiram que ninguém vai “bater bumbo” nem fazer manifestações públicas de rua para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo depois de o ex-presidente Fernando Henrique divulgar dois vídeos ressaltando a importância do evento e o PSDB distribuir material lembrando que esse era o mensalão do PT, nenhuma liderança expressiva dos partidos inflamou o país. “Se nós criticamos a CUT por querer usar dinheiro público para defender mensaleiros, não podíamos fazer o isso, mesmo sem usarmos dinheiro público”, declarou o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

Para ele, a ausência de pressões nas ruas não significa que os partidos de oposição estejam desprezando o julgamento. “Toda vez que o assunto aparecer na televisão, nos jornais ou nas conversas, as pessoas vão lembrar que esse escândalo de corrupção aconteceu no governo Lula”, prosseguiu. O tucano estava em São Paulo para acompanhar o primeiro debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo. Ele garantiu que José Serra também não pretende privilegiar esse tema durante a campanha municipal para não dar visibilidade a um candidato — Fernando Haddad, do PT — ainda pouco conhecido pelo eleitorado. "Vamos mostrar as propostas de nossos candidatos para as cidades brasileiras", completou o presidente do PSDB.

“Não vamos politizar essa questão, porque é tudo o que o PT quer. Seria uma atitude pouco inteligente da nossa parte pressionar sobre um assunto que é da competência do STF”, afirmou o presidente do DEM, José Agripino (RN). Já o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP) afirmou que o julgamento em si é a maior prova da maturidade das instituições democráticas brasileiras: “Agora não dá para os petistas dizerem que não existiu o mensalão nem Lula dizer que tudo é uma farsa. O assunto virou uma ação penal no STF.”

Freire acrescentou não ver muito sentido em ruas repletas de manifestantes dizendo que confiam no Supremo. “Por que os petistas não fazem manifestações também? Alegam que querem um julgamento técnico? Mentira, é porque sabem que não há como sair às ruas para defender corruptos”, afirmou.