O procurador-geral da república, Roberto Gurgel, começou a ler sua acusação na tarde desta sexta-feira dizendo que os argumentos e as provas comprovam de forma “robusta” a existência do esquema do mensalão. Segundo o procurador, o sistema organizado sob a batuta de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, misturava o público e o privado. “Vemos traços de um modelo que insiste, teimosa e atrevidamente, em manter um modelo político que mistura o público e o privado”, afirmou. “Foi sem dúvida o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público registrado no Brasil. Maculou a República”, completou.
Principal réu do processo, Dirceu será acusado pelo procurador-geral de ter montado e gerenciado, assim que assumiu a Casa Civil em janeiro de 2003, a compra de apoio de partidos políticos. O esquema teria sido viável pela prática de diversos crimes, como corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha, evasão de divisas e gestão fraudulenta. Dirceu é réu por corrupção ativa e formação de quadrilha.
Gurgel pedirá a absolvição de dois réus por falta de provas: o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Luiz Gushiken e do ex-assessor do extinto PL (atual PR), Antônio Lamas.
A participação do chefe da PGR ocorre com um dia de atraso. A expectativa era de que a acusação já tivesse exposto sua argumentação ontem, mas a discussão sobre o desmembramento ou não do processo atrasou o andamento da sessão.
Empréstimos
Gurgel citou reuniões de Dirceu para afirmar que o ex-ministro atuou na obtenção dos empréstimos dos bancos Rural e BMG, que serviram para a operação do mensalão.
Em relação ao financiamento, o procurador destacou ter sido Dirceu que enviou os publicitários Marcos Valério e Rogério Tolentino a Portugal para negociar a obtenção de recursos com Miguel Horta, presidente da Portugal Telecom e acionista do Banco Espírito Santo. Posteriormente, Horta foi recebido por Dirceu na Casa Civil e Valério estava novamente presente.
"Não é crível que o presidente do Banco Espírito Santo precisasse do Marcos Valério para tratar de investimentos no litoral da Bahia. Essa reunião foi uma continuação do encontro em Portugal que aconteceu a mando de Dirceu, por isso era necessária a presença de Marcos Valério", disse Gurgel.
O procurador destacou ainda reunião de Dirceu com dirigentes do BMG em 2003 apenas três dias após a celebração de um dos empréstimos que sustentou financeiramente o esquema. Usou ainda um depoimento colhido pela CPI dos Correios em 2005, na qual a mulher de Marcos Valério, Renilda Santiago, diz ter ouvido do marido que Dirceu sabia das operações financeiras.
Com Agência Estado