Jornal Estado de Minas

Diálogo tenso da presidente com centrais sindicais

Preocupada com a crise econômica internacional, Dilma Rousseff dá sinais de que não vai ceder aos servidores federais. Sindicalistas manifestam saudades do governo Lula

Paulo de Tarso Lyra
Gilberto Carvalho (D) discute com centrais apenas setor privado como na reunião sobre as montadoras - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Abr
Brasília – O rompimento do diálogo com as centrais e o desaparelhamento do meio sindical no governo da presidente Dilma Rousseff levaram à explosão das greves nos diversos setores do funcionalismo público federal. Trinta categorias do Executivo Federal e mais servidores do Judiciário de pelo menos quatro estados cruzaram os braços pressionando o Palácio do Planalto em busca de reajuste. Dilma, contudo, mantém-se impassível e dá sinais de que não cederá, preocupada com a crise financeira internacional. "Este governo não é politiqueiro, não vai agir pensando apenas na base política e sindical", disse ao Estado de Minas um aliado da presidente.

O embate encerrou uma trégua que o Planalto tinha com as centrais sindicais, construída, sobretudo, ao longo do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo do mensalão, o ex-presidente reatou os laços com os sindicalistas, sobretudo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que foi às ruas defendê-lo durante o escândalo. Lula chamou Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e atual prefeito de São Bernardo, para assumir uma pasta na Esplanada — primeiro o Ministério do Trabalho e depois, a Previdência.

Ele também entregou o Ministério do Trabalho ao PDT, ligado à Força Sindical. O ministro Carlos Lupi resistiu 12 meses no cargo, sendo substituído por Brizola Neto (PDT-RJ). Brizolinha pediu a benção dos sindicalistas antes de assumir o posto, mas sua gestão, até o momento, é inócua. Durante a atual greve do funcionalismo, o balcão de negociações passa longe da pasta comandada pelo pedetista, concentrado no Ministério do Planejamento, comandado por Miriam Belchior.

A CUT também perdeu seus interlocutores com o Planalto e a relação entre a atual direção da central e Dilma é tensa. Vagner Freitas, originário do sindicato dos bancários, é visto pelo governo como alguém que "pretende marcar posição perante a base" e, por isso, adota uma postura mais radical e menos aberta ao diálogo que seu antecessor, Artur Henrique.

Dilma expressou seu descontentamento com a CUT na conversa que teve com o ex-presidente Lula, na segunda-feira, em São Paulo. O presidente, ao seu estilo conciliador, pediu que ela fosse mais flexível nas negociações, mas Dilma mantém-se intransigente em sua posição. Desautorizou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, como interlocutor das centrais, função que a pasta sempre exerceu.

No ano passado, Carvalho promoveu mesas de negociação para debater o valor do novo salário-mínimo e para tentar impedir as greves nas Usinas de Jirau e Santo Antônio, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Fontes palacianas ouvidas pelo Estado de Minas justificaram que Gilberto não está desprestigiado, mas que o contato dele com as centrais resume-se às negociações envolvendo o setor privado. Conversas sobre reajustes salariais do funcionalismo precisam ser conduzidas pelo Ministério do Planejamento.

Os sindicalistas sentem saudades do governo anterior. "Lula sabia que eu nunca votei nele para presidente da República. Mas sempre me chamou para "tomar uma" na casa dele e discutir política", disse o presidente da Força Sindical e candidato do PDT à prefeitura de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

Com Dilma, as coisas são diferentes. "Ela exagerou ao editar um decreto permitindo a substituição dos servidores em greve nos portos por trabalhadores públicos estaduais", criticou um especialista em movimento sindical. Essa quebra de confiança fez com que as categorias antecipassem o movimento grevista. Como existe uma trava legal impedindo a concessão de qualquer reajuste que não esteja previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias, encaminhada ao Congresso até 31 de agosto, os servidores ficaram receosos da repetição do cenário do ano passado, quando esperaram um sinal positivo do governo e ficaram sem os reajustes pretendidos.