A reivindicação da criação dos centros culturais e dos tombamentos é do Coletivo Memória Verdade e Justiça, formado por cerca de 20 organizações, dentre as quais a Seccional RJ da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que recebeu nesta segunda-feira a comissão pela primeira vez. Na ocasião foram entregues depoimentos de sobreviventes e de parentes de desaparecidos.
No evento, o presidente, Wadih Damous, pediu o tombamento do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Tijuca, e da chamada Casa da Morte, em Petrópolis, mantida secretamente pelo Exército, de onde apenas a militante, Inês Etienne Romeu, saiu viva.
Ana Bursztyn-Miranda, representando com Damous o coletivo no Rio, acrescentou que outro importante centro de tortura e prisão de militantes, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Rio, onde funciona o Museu da Polícia Civil, na Rua da Relação, como já é tombado, deve ser transformado em um memorial. O prédio histórico é de 1912.
"Como foi um prédio tão importante criado para ser sede da Polícia Central do Brasil, quando o Rio era capital, e tem uma memória de repressão longa - funcionou também na ditadura de Getúlio Vargas - aceitamos negociar a permanência do Museu da Polícia Civil, até porque boa parte deste acervo foi conseguido por meio de métodos repressivos", disse Ana Bursztyn.
Integrantes do Grupo Tortura Nunca Mais, a ativista Vitória Grabois e Cecília Coimbra pediram mais transparência da comissão na divulgação de depoimentos dos militares. "Manter o sigilo é manter a confidencialidade entre os torturadores desse país", declarou Cecília.
Dipp, no entanto, explicou que todas as informações prestadas ou descobertas serão divulgadas. "Em um determinado momento, pode ser que uma oitiva seja feita em sigilo, mas depois que esse trabalho for esgotado, sairá tudo no relatório final. E , até mesmo no decorrer do processo".
Também foi anunciado para a próxima quinta-feira um ato público pedindo a desapropriação da Fazenda Cambahyba, em Campos, onde corpos de pelo menos dez presos políticos foram incinerados, conforme revelou o ex-delegado do Dops, Cláudio Guerra. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) entrou com pedido Judicial neste sentido.