Integrantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investiga violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar (1964-1985), reagiram nesta segunda de forma incisiva a acusações de ativistas de que têm poderes limitados e não apurarão os crimes da ditadura. Em audiência pública, depois de ouvirem protestos emocionados contra o recurso ao sigilo em parte dos seus trabalhos e críticas à sua falta de capacidade legal para punir, membros da CNV repudiaram o que chamaram de "tom acusatório" dos militantes de direitos humanos. As críticas ao órgão foram feitas, entre outros, por Cecília Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio, que atacou a lei que criou a comissão e a acusou de "manter a confidencialidade" de torturadores.
"Acho um pouco cansativo escutar que a Comissão Nacional da Verdade está envolvida numa tentativa de produzir o esquecimento e que vamos conciliar com o sigilo", declarou Paulo Sérgio Pinheiro, o mais exaltado ao rebater as críticas, na reunião na sede da Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Rio de Janeiro, chamando-as de teoria conspiratória. A audiência às vezes foi marcada pelo tom de comício, com palavras de ordem como "Cadeia já/para os fascistas do regime militar" gritadas por militantes.
Menos exaltada, outra integrante da CNV, Maria Rita Kehl, também reclamou das críticas. "Às vezes, é um pouco chocante ouvir de companheiros da mesma luta um tom um pouco acusatório como se o nosso sigilo às vezes necessário para uma investigação, fosse da mesma ordem do sigilo de que estava escondendo coisas feias, vergonhosas etc", reclamou. O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp, também da CNV, considerou normais as críticas à comissão, atribuindo-as à carga emocional que cerca os episódios que a comissão apura. Assim como José Carlos Dias, outro membro, defendeu que alguns procedimentos sejam submetidos a sigilo.
"Acho que vocês têm que confiar que estamos querendo apurar. Isso tem características de uma investigação policial, criminal. E temos de a partir daí tomar outros depoimentos. Se dermos publicidade, estaremos prejudicando a descoberta da verdade", disse Dias. Ele declarou que os convocados pela CNV serão obrigados a comparecer - se não forem, serão processados por desobediência.