Jornal Estado de Minas

Líder do PT defende Lula e afirma que acusações de Jefferson são atitude desesperada

Ex-presidente preferiu o silêncio

Leandro kleber
Para Jilmar Tatto, dizer que Lula teve participação no mensalão é mais uma trairagem de Jefferson - Foto: Leonardo Prado/agência câmara - 19/4/12 Petistas consideraram que a defesa do presidente do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, está tentando criar um factoide diante do julgamento do processo do mensalão ao acusar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter ordenado os supostos pagamentos de propina a parlamentares em troca de apoio político. Correligionários de Lula negam a existência do mensalão, ressaltam que Jefferson já teve o mandato cassado na Câmara e atribuem os pagamentos feitos no começo do governo Lula a caixa dois de campanha eleitoral. O ex-presidente, por sua vez, preferiu não se manifestar sobre o tema, enquanto a oposição partia para o ataque.


“É uma defesa desqualificada. É mais desespero, porque ele percebeu que não tinha provas. Aliás, até hoje, o próprio Roberto Jefferson havia colocado que o Lula não tinha nada a ver com a história”, afirma o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto. Segundo ele, o objetivo da defesa – apresentada ontem ao Supremo Tribunal Federal pelo advogado Luiz Francisco Barbosa – é levantar quem já está morto politicamente. “É mais uma trairagem do Jefferson, que, com medo de perder o partido, começou a atacar todo mundo”, diz Tatto.

“Se existe alguma coisa, quem tem de ser condenado é ele (Jefferson). Ele foi cassado na Câmara e, sabendo que vai ser condenado no Supremo, fica querendo criar factoide”, disse o presidente do PT no Distrito Federal, deputado Roberto Policarpo.

A opinião é compartilhada pelo senador Wellington Dias (PT-PI). De acordo com o parlamentar, há uma clara tentativa de politizar o processo e aproveitar o período eleitoral. “Todas as declarações dadas pelo Roberto Jefferson isentavam o presidente Lula desde o início. Daqui para a frente, não é de estranhar mais nada”, diz. Dias avalia que a acusação é feita sem prova alguma e que Lula foi eleito presidente do Brasil e trabalhou pelos interesses do país com o apoio dos parlamentares do Congresso, escolhidos democraticamente. “Lamentavelmente, alguém que conhece a lei sabe como isso (denúncia feita no STF) tem efeitos pirotécnicos”, afirma.

A crítica feita ontem pelo advogado ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de que ele errou ao não incluir Lula na denúncia do mensalão, ganhou eco na oposição. Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Alvaro Dias (PSDB-PR) avaliam que o petista tinha conhecimento a respeito do suposto esquema de pagamento de políticos em troca de apoio no Congresso.

“Era um fato visível à época e que foi ignorado por muitos. Não tenho nenhuma dúvida de que o presidente sabia de tudo e não tomou providências, o que configura prevaricação”, afirma Dias, líder tucano no Senado. Segundo ele, porém, a manifestação da defesa de Jefferson chega com atraso ao julgamento, apesar de haver razões para tal. “Na CPI dos Correios, fiz votos em separado que incluíam o ex-presidente e sugeriam o seu impeachment. Houve um equívoco histórico da oposição ao não tentar incluir o presidente Lula no processo”, avalia.

Para o senador Randolfe Rodrigues, a acusação do advogado de Jefferson contra o ex-presidente Lula é “da mais alta gravidade”, apesar de não ser inédita. “O próprio Roberto Jefferson já havia dito isso no auge do escândalo. Mas seria importante que a defesa e o próprio deputado apresentassem elementos materiais que indicam isso, que ligam o ex-presidente à autoria (do crime)”, acredita.

De acordo com Randolfe, a Procuradoria-Geral da República aponta elementos contundentes na denúncia oferecida ao Supremo de que existiu o mensalão no governo Lula. “Acho pouco provável que o ex-presidente não soubesse disso. Eram muitas as autoridades que tinham conhecimento sobre o assunto”, avalia.