Jornal Estado de Minas

Diferentemente de outros anos, o comércio de material eleitoral ainda não engrenou

Candidatos reclamam da falta de verba e dos cofres fechados

Bertha Maakaroun - enviada especial

A menos de dois meses das eleições e a poucos dias do início da propaganda gratuita de candidatos, o mercado eleitoral ainda está frio. Há pouco material de campanha nas ruas. As encomendas estão aquém daquelas projetadas pelos empresários do setor, que se prepararam para atender à tradicional demanda: os estoques cheios. A farra do financiamento acabou. Mais criteriosos para financiar candidaturas, os empresários fecharam os cofres. O dinheiro sumiu. Virou mercadoria rara.

Em Belo Horizonte, o choro de vereadores e candidatos que concorrem à Câmara Municipal tem lá sua razão de ser. Embora uma campanha proporcional à reeleição custe, em média, R$ 700 mil, até agora a arrecadação média dos 39 vereadores que enfrentam as urnas foi de R$ 30 mil, segundo informaram à Justiça Eleitoral na primeira prestação de contas parcial. Dessa arrecadação média de R$ 30 mil, apenas 60% representam doações de terceiros. Os outros 40% saíram das contas dos próprios parlamentares, que ao longo dos últimos quatro anos fizeram provisões.

Tradicionalmente, banners, sethru, cartazes de papelão, adesivos de para-choque entram em campo em julho, quase que simultaneamente com os santinhos e os santões, que introduzem os candidatos na briga pelo voto. Mas este ano as coisas mudaram. “Os candidatos diminuíram o tempo para viabilizar a campanha. Montamos uma estrutura para atender à demanda, que está ociosa”, constata Hildemano Amorim, dono de uma empresa que há 20 anos atua no mercado eleitoral. “Em 2008, a esta altura, tínhamos vendido quase 40% a mais do que foi contratado até este momento. O problema é que não há mais doação. O cerco se fechou”, considera Amorim.

A mesma constatação faz Marcelo Teixeira Figueiredo, dono de uma empresa de equipamentos de som, que preparou um robusto estoque na expectativa de boas vendas de caixas de som, geralmente instaladas nos carros, para rodar os jingles e as mensagens de campanha dos candidatos. “Já fiz várias eleições e nunca vi uma disputa tão fria. As campanhas nas ruas não têm volume. As regras de financiamento estão mais rígidas. E eu estou sentindo no negócio. O estoque está longe de ser comercializado”, considera Marcelo, que acredita ter vendido 30% a menos do que nas eleições municipais de 2008.

Porta de entrada das campanhas, as gráficas que produzem o material básico – santinhos e santões – estão vendendo mais do que os fornecedores de produtos de campanha mais sofisticados. Mas ainda estão comercializando 20% a menos do que há quatro anos. “Houve uma queda nas vendas quando comparamos com as campanhas passadas”, avalia o empresário Vantuil Cassimiro, dono de uma gráfica. Mas como os santinhos e santões são, nas grandes cidades, ao lado do programa eleitoral gratuito, o carro-chefe de qualquer campanha política, as gráficas estão vendendo mais do que os fornecedores de materiais mais sofisticados, que em geral integram uma espécie “segunda etapa” da divulgação dos candidatos.

Congresso

Não apenas o contexto de escândalos que se desdobraram a partir de situações de financiamento, que colocam o foco das atenções nos doadores de campanha, afastam o empresariado. O que ocorre é que o grande empresariado tem mais interesse em manter uma interlocução azeitada com o Congresso Nacional do que com as câmaras municipais. “O empresariado investe mais em campanhas para deputado federal e para senador do que nas campanhas municipais. A nossa interlocução, no debate de grandes temas, é muito maior com o Congresso. Isso faz a diferença”, considera Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado, o empresário hoje, avalia muito bem as candidaturas antes de investir. “Pela dificuldade de recursos, a tendência é que invista em quem realmente acredita”, afirma o empresário, considerando pouco frequentes as situações em que as empresas optem por financiar duas candidaturas adversárias para ficar bem com “os dois lados”. Também queixando-se de aperto de caixa, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto Salum, afirma: “O empresariado está mais reticente em financiar, principalmente pelo momento que vive. As empresas estão em dificuldade. Há muitas obras mas não temos condições de preço para trabalhar”. Dificuldades de mercado à parte, que tornam o financiamento escasso, há sempre empresários em condições e com interesse em dar alguma coisa. “Orientamos aqueles que querem contribuir que o façam de forma oficial, seja de que lado for”, acrescenta Salum.

Gastos Para as campanhas políticas, a vida não anda fácil. Com projeção de gastos de R$ 35 milhões, a candidatura de Marcio Lacerda (PSB) arrecadou, até o momento, segundo declaração à Justiça Eleitoral, R$ 1 milhão. A campanha de Patrus Ananias (PT), que estima gastos de R$ 25 milhões, alcançou R$ 897,5 mil. Entre vereadores, as dificuldades são maiores. Os vereadores Autair Gomes (PSL), Henrique Braga (PSDB), Alexandre Gomes (PSB) e Moamed Rachid (PDT) informaram na primeira declaração parcial não terem obtido um só real. Para quem projetou gastos, nessa ordem, de R$ 500 mil, R$ 600 mil, R$ 800 mil e R$ 1,5 milhão, há um longo caminho a percorrer.