O ministro Marco Aurélio Mello disse lamentar o clima tensovivido pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento do mensalãoe criticou a pressa de colegas para que o processo seja analisado em ritmodiferenciado. Para ele, os ministros devem centrar a discussão em ideias semdescambar para o campo pessoal. “Temos(um clima tenso), mas não deveríamos ter. É algo que nos entristece e nos deixa, emtermos de colegiado, um pouco preocupados”, afirmou ontem em conversa comjornalistas após a sessão da 1ª Turma do STF.
Ao reclamar da rapidez imposta ao julgamento do mensalão,Marco Aurélio não poupou o presidente da Suprema Corte, Carlos Ayres Britto, enem o relator da ação penal, Joaquim Barbosa. “O relator tem poder, mas não éum todo poderoso no processo. Ele não dita regras. Ele observa regras”, frisouMarco Aurélio.
A possibilidade de alteração no cronograma deverá serdiscutida nesta quarta, em reunião administrativa. Pela previsão inicial, apartir da semana que vem haverá apenas três sessões semanais, às segundas,quartas e quintas-feiras, a partir das 14h. O presidente do STF e o relator domensalão defendem a marcação de mais encontros para que a análise ganhe emceleridade. Se isso ocorrer, a possibilidade de o ministro Cezar Peluso votaraumenta. Ele terá de se aposentar até o dia 31 deste mês, pois completará 70anos três dias depois.
Na reunião administrativa de quarta, será apreciada também aproposta de Marco Aurélio de o Supremo convocar duas sessões extras por semanapara julgar processos comuns, que não têm relação com o mensalão. “Temos os demais processos. O plenário setornou tribunal de processo único, mas nós não. Não estamos licenciadosrelativamente aos demais processos, continuamos atuando.”
Marco Aurélio alertou que Ayres Britto não pode tomar decisõessobre o andamento do julgamento de forma isolada. “Ele não está acima docolegiado. É um coordenador, igual aos demais. Ele só coordena os trabalhos. Qualquerquestão de importância que interfira na atuação dos ministros é decidida pelocolegiado”, destacou. O ministro salientou também que o presidente do STF mudouseu comportamento habitual. “Ele que é um homem tão tranquilo, apontado nassustentações como poeta. Poeta geralmente é muito sereno em tudo o que faz. É contemplativo,mas nesse caso não está sendo.”
Por fim, Marco Aurélio criticou o excesso de rigor docerimonial do Supremo em relação ao acesso do público ao plenário. “Quando você criaobstáculos para o acesso você afasta o Judiciário do povo”,