Para o cientista político José Luciano Dias, da Universidade de Brasília (UnB), é normal um político buscar exercer novamente um cargo como o de prefeito. Dias não faz críticas ao que chama de “pensamento de classe média”. Segundo ele, o problema é que “pensadores” dessa classe social, que representa 7% dos brasileiros, “acha que pode impor aos mais pobres em quem deve votar”.
Luciano Dias qualifica de “bobagem” essa postura e lembra que, na hora em que digita na urna eletrônica o número de seu candidato, a população mais pobre exerce o direito de escolher aquele que prefere ver no cargo.
“Esse eleitor é pragmático e vota em quem satisfaz suas necessidades. Não adianta querer impor uma decisão utópica, que tire o poder do eleitor de escolher em quem votar”, diz o cientista político.
Também cientista político da UnB, João Paulo Peixoto faz uma avaliação diferente da de Luciano Dias. Candidaturas recorrentes ao mesmo cargo não passam de um método criado pelos políticos para estabelecer “feudos”, nos quais eles dominam o eleitorado, ressalta Peixoto.
Para ele, não há leis capazes de modificar tal realidade. Trata-se de um problema cultural da sociedade brasileira, que convive com um capitalismo incipiente, que se reflete na política, fazendo com que haja pouca renovação dos quadros existentes, explica.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, o político chega à Presidência da República e, cumprido o mandato, vai para casa. Não tem esse negócio de se candidatar a senador, a deputado ou a governador, como no Brasil”, acrescenta Peixoto. De acordo com ele, depois de cumprir o mandato na prefeitura, o político brasileiro deveria buscar novas cargos, como parlamentar federal ou até mesmo governador.
O cruzamento de dados feito pela Confederação Nacional dos Municípios demonstra, por exemplo, que 1.075 políticos que foram prefeitos entre 2005 e 2008 querem retornar ao cargo e vão disputar as eleições deste ano. Com 207 ex-prefeitos na disputa, Minas Gerais é o estado com maior número de candidatos a voltar à prefeitura.