Relatório sigiloso da Polícia Federal enviado no mês passado para o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em Goiás, aponta indícios do envolvimento do desembargador Júlio César Cardoso de Brito com o bicheiro Carlos de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Assinado por dois agentes da PF e encaminhado pelo delegado federal Matheus Rodrigues ao presidente do TRT, desembargador Mário Sérgio Bottazzo, o documento faz uma análise do material apreendido na casa de Gleyb Ferreira da Cruz, um dos principais auxiliares de Cachoeira, sócio dele em algumas empresas e apontado pela PF como um dos operadores financeiros do esquema comandado pelo contraventor.
No computador foram localizadas diversas fotos do desembargador ao lado de Gleyb e do irmão de Cachoeira, Marco Antônio de Almeida Ramos, em jantares e viagens ao exterior. E via celular, segundo a PF, foram encontradas cerca de 300 mensagens trocadas entre Gleyb e o desembargador. Nessas mensagens, os dois conversam sobre as viagens e sobre processos envolvendo os laboratórios Vitapan e Neoquímica, que teriam ligação com o esquema do contraventor. Em uma delas, o desembargador cobra um iPad de alguém ligado ao esquema que estava indo para fora do Brasil. Nelas ele também se refere a Cachoeira como “cabeça” e marca encontros com ele, via Gleyb.
O nome do desembargador já havia sido citado nas escutas telefônicas da Operação Monte Carlo. Nessas conversas, ele orienta advogados do grupo de Cachoeira sobre como proceder nos processos trabalhistas de interesse do contraventor. Nessas conversas, ele discute ações trabalhistas do laboratório Vitapan, da ex-mulher de Cachoeira, Andrea Aprígio, e da distribuidora de medicamentos e da Ideal Segurança, ambas ligadas ao bicheiro.
INVESTIGAÇÃO Por unanimidade, o TRT de Goiás decidiu abrir, em 12 de julho, um processo disciplinar para investigar as denúncias contra Júlio César de Brito, que foi afastado temporariamente do cargo de desembargador, da vice-presidência do tribunal e da corregedoria. O relator do caso é o desembargador Paulo Pimenta, escolhido por sorteio, como determinam as regras do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Brito não foi localizado pela reportagem para comentar o relatório. Em sua defesa, ele negou qualquer tipo de recebimento de vantagens, disse que nunca atuou nos processos de interesse de Cachoeira e afirmou ainda que mantinha relações sociais com Gleyb e que não eram amigos íntimos.