Jornal Estado de Minas

Foco da investigação na Delta provoca divergências na CPI do Cachoeira

Segundo os parlamentares, a construtora Delta movimentou mais de R$ 300 milhões por meio de empresas de fachada

Agência Câmara
Integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira divergiram nessa quarta-feira sobre colocar ou não a Delta Construções S.A. como centro das investigações. A Delta é a construtora campeã de contratos do governo federal no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Durante o depoimento dessa quarta-feira, a empresária Roseli Pantoja convenceu os parlamentares de que teve seu nome usado sem sua autorização para criação de empresas de fachada. Já deputados e senadores qualificaram o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, de "sócio ultraminoritário da organização criminosa”.

"Estamos chegando à conclusão de que o Cachoeira é peixe miúdo nesta história, e a holding do esquema é a construtora Delta; são 16 empresas de fachada que movimentaram quase R$ 300 milhões", disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP).

O senador Pedro Taques (PDT-MT) concordou que as investigações da comissão devem se voltar para a Delta. "Não dá para circunscrevermos as investigações da CPMI ao Centro-Oeste. O sr. Cavendish assinava os cheques lá no Rio de Janeiro. Se vivêssemos num país sério, o dono da Delta estaria preso", disse. Cavendish deixou a presidência da construtora Delta há três meses, quando se tornaram mais explícitas as informações sobre o envolvimento da empresa com os fatos investigados pela comissão.

O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) fez coro à prisão do empresário carioca e disse que a CPMI, para ser séria, deve quebrar os sigilos de todas empresas laranjas que receberam recursos da Delta.

Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a comissão deveria mudar seu nome para "CPMI da Delta". Segundo ele, Carlinhos Cachoeira é um problema da polícia e da Justiça criminal, “e, em breve, terá uma sentença de 20 anos para cima". Na avaliação do deputado, “o que importa para a comissão agora é a Delta”.

O líder do PSDB, deputado Bruno Araújo (PE), disse que "começou agora a CPMI da Delta". Segundo ele, "o Cachoeira virou córrego, virou coisa pequena", pois "são R$ 7 bilhões em obras públicas feitas pela Delta". Ele afirmou também que a construtora Delta tem 6% de seus contratos com o PSDB e 94% com partidos governistas.

Foco em Cachoeira

O relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse que ela deve se focar nas relações suspeitas da Delta que serviram à organização do Cachoeira. “Estamos falando de uma organização criminosa que continua atuando e operando. Não sei de onde tiraram que a história de Cachoeira está resolvida. Ele continua atuando em Goiás e é como se isso não existisse?” questionou. Segundo Cunha, a comissão deve continuar investigando a organização de Cachoeira até conseguir desmontar o esquema.

O deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF) disse que CPMI do Cachoeira não acabou e que estão querendo mudar o foco das investigações. “A CPMI está no rumo certo, não acabou nada. Estamos perto de dar o bote e estão querendo desviar para a Delta nacional? Calma aí, por que desviar? Temos que deixar claro para a Nação quem são os agentes públicos por trás do Cachoeira, porque estamos diante do maior escândalo de corrupção deste País. Vamos devagar com o andor”, disse.

Para o deputado Emiliano José (PT-BA), a comissão não pode escamotear a investigação sobre Cachoeira para não perder o foco. Ele disse que a organização de Cachoeira inclui membros do governo de Goiás “por inteiro”, o governador Marconi Perillo (PSDB) “por inteiro” e também outros estados.

Cruzamento de dados

Miro Teixeira cobrou que o PSDB compartilhe com os demais integrantes da CPMI os cruzamentos de dados feitos por uma assessoria privada com softwares específicos. “Precisamos ter acesso a esses cruzamentos o quanto antes”, disse.

Pelo levantamento tucano, a Delta transferiu para empresas fantasmas R$ 291 milhões entre 2002 e 2012. Desse total, R$ 27,6 milhões foram para a Alberto & Pantoja, em nome da empresária Roseli Pantoja, de maio de 2010 a maio de 2011. De acordo com o estudo, o maior beneficiário da empresa foi o contador Geovani Pereira da Silva, apontado como tesoureiro do esquema de Cachoeira, que recebeu R$ 8,6 milhões.