Jornal Estado de Minas

Defensor-geral da União conseguiu dobrar o Supremo Tribunal Federal

AgĂȘncia Estado

A única vitória da defesa no caso mensalão até agora não foi conquista de nenhum dos advogados estrelados que atuam no julgamento, nem custou cifras milionárias. Aliás, foi de graça. O defensor-geral da União, Haman Córdova, fez o que nem o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos conseguiu: convenceu os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal a desmembrar o processo e a mandar o caso de seu cliente, Carlos Alberto Quaglia, para ser julgado em primeira instância. Argumentou que falhas impediram o réu de se defender no processo.
A uma semana dos 37 anos, o ex-escrivão da Polícia Federal e chefe da Defensoria desde o ano passado foi comemorar a decisão do STF, quarta-feira, em casa, com a mulher e com o pequeno casal de gêmeos. Momentos antes, na saída do Supremo, foi surpreendido pelos cumprimentos da patota de “advogados com pedigree”, com quem o profissional com salário de R$ 16,6 mil líquidos nunca antes havia conversado.

“Houve surpresa porque, diante de um cenário com tantos advogados brilhantes e renomados, a Defensoria entrava meio que como um dever de ofício, mas foi justamente o nosso assistido que conseguiu obter uma vitória maiúscula, quando se esperava que esses profissionais renomados é que pudessem consegui-la.”

Com estilo cordial e ponderado, Córdova faz questão de isentar os ministros Joaquim Barbosa, relator, e Ricardo Lewandowski, revisor, do erro processual. Para ele, a peça é muito complexa e equívocos de cartório acontecem aos montes. “Como os ministros procuram se ater somente aos fatos, é obrigação da defesa tomar conta dessa parte.”

O caso do argentino Quaglia, acusado de usar sua empresa Natimar para lavar dinheiro para o PP, chegou à Defensoria em abril do ano passado.

O defensor-geral comemorou o fato de atuar num caso de repercussão como o do mensalão e poder divulgar o nome da instituição que ele considera relativamente nova - 17 anos - e com estrutura precária - orçamento de R$ 84 milhões e 480 defensores em todo Brasil. Mas o excesso de trabalho também fez o neto de militar e fanático por esportes lamentar: “Perdi a Olimpíada, que adoro ver pela TV. Virei madrugadas estudando o processo, então só vi algumas reprises. Isso foi chato.”

Haman segue sem nunca ter conversado com seu cliente. Nem por telefone. Para economizar tempo e dinheiro, pediu para que o defensor-chefe de Santa Catarina entrevistasse Quaglia, que vive no Estado. Quando teve dúvidas, enviou perguntas por e-mail ao colega, que repassou ao réu. Aliás, a Defensoria conseguiu para Quaglia que o governo o incluísse em um plano de assistência social e hoje ele recebe um salário mínimo por mês.

Natural de Brasília, seu nome Haman Tabosa de Moraes Córdova é “mais brasileiro impossível, com ascendência cearense e catarinense”. Ele conta que nunca conheceu ninguém com o primeiro nome como o seu. “Vim descobrir que, em um passado muito antigo, houve um Haman que matou um monte de judeus. Mas quero que ninguém associe isso ao meu nome. A verdade é que meus pais acharam forte, bonito, só isso.”