A presidente Dilma Rousseff está cada vez mais à vontade na cadeira presidencial para imprimir um ritmo próprio no governo, escapando da asa de seu mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva, e da vigília ideológica de seu partido, o PT. O pacote de concessões de estradas e ferrovias anunciado na semana passada é apenas um dos exemplos do distanciamento gerencial imposto pela presidente em relação ao seu antecessor. “Sentou naquela cadeira, é prestar contas para a sociedade, não para o PT ou para Lula”, disse ao Estado de Minas um petista que integra a ala dilmista.
E ela ainda enfrenta o ciúme dentro do partido. A começar pelo fato de tanto Lula quanto uma ala importante no PT jamais abandonar a possibilidade de o ex-presidente candidatar-se em 2014 para um novo mandato. Na semana que passou, a ex-primeira-dama Marisa Letícia descartou essa hipótese, afirmando que a vida pós-Planalto vai muito bem, obrigado. “Há alguns meses, ele falou brincando que, se a Dilma não quiser, ele sairia, mas foi uma brincadeira. Ela é quem deve disputar a reeleição”, afirmou Marisa, em entrevista ao ABCD Maior, jornal de São Bernardo do Campo (SP).
É preciso, antes, avisar a incautos filiados à legenda. “Eu não sei se a Dilma será candidata ou não. Se ela estiver mal nas pesquisas de intenção de voto em 2014, Lula passa a ser a nossa esperança para continuarmos no governo federal”, afirmou ao EM um parlamentar com certo grau de influência no PT e que jamais escondeu preferir Lula a Dilma.
Habilidosa, Dilma não rompeu politicamente com Lula. Segundo relato de ministros próximos a ela, os dois ainda se falam praticamente dia sim, dia não. Ela segue consultando-o nos momentos delicados, especialmente nas relações com os aliados no Congresso. Lula, contudo, por mais de uma vez, teve que defender o direito da presidente de tomar as atitudes que lhe aprouver.
NÚCLEO DURO Agora, ela começa a preparar-se para 2014. Do ponto de vista administrativo, cercou-se de um núcleo duro composto por Bernardo Figueiredo, indicado para presidir a estatal criada para planejar e comandar os investimentos em logística; Nelson Barbosa, secretário-executivo da Fazenda; e Nelson Hubner, presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Do lado político, escolheu outro núcleo duro, com cinco ministros: Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior); Gleisi Hoffmann (Casa Civil); Paulo Bernardo (Comunicações); Aloizio Mercadante (Educação); Alexandre Padilha (Saúde). Ocasionalmente, Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) é agregado ao grupo.
Dilma definiu as marcas de sua gestão. Combate à pobreza – herdada de Lula mas aprofundada com o Brasil Carinhoso; defesa dos direitos do cidadão, refletida na pressão pela redução dos juros e por um serviço de qualidade na telefonia; e intransigência diante dos chamados malfeitos, que incluem desde relações políticas a contatos com setores da iniciativa privada, como a CBF. Tudo para ter o que mostrar daqui a dois anos. “Dilma é candidatíssima à reeleição, não tem alternativa”, garantiu um integrante do primeiro escalão.