Foi detectado apenas uma "proximidade muito grande" entre Cachoeira e Cláudio Abreu, diretor regional da Delta Centro-Oeste. A sede da empresa em Goiânia era inclusive usada pelo bicheiro para encontros de negócios. Também não foram levadas adiantes as investigações sobre operações de "dólar a cabo" do grupo de Cachoeira no exterior - no Uruguai, no Reino Unido e em Curaçau.
"O próximo desafio do Ministério Público é identificar a questão patrimonial e as possíveis fraudes à licitação e o braço financeiro", afirmou Léa, que comandou as investigações no Ministério Público da Operação Monte Carlo. "Não conseguimos fazer qualquer tipo de investigação nesse viés empresarial", concordou Salgado. Ambos informaram que as apurações das duas operações ficaram centradas no esquema de jogo ilegal comandado por Cachoeira.
Diante da defesa dos procuradores para que as investigações avancem sobre o braço empresarial do grupo de Cachoeira, integrantes da CPI voltaram a defender a quebra do sigilo bancário e fiscal de empresas laranjas montadas pelo contraventor para receber recursos da Delta Construções. "A CPI apontou a existência de uma holding da corrupção capitaneada pela empreiteira Delta", observou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Levantamento do PSDB aponta que a empreiteira repassou R$ 413,5 milhões para 18 empresas fantasmas nos últimos dez anos. Apenas seis dessas empresas tiveram seu sigilo quebrado pela CPI. "Estou estudando para ver se é o caso de quebrar os outros sigilos", disse o relator Odair Cunha (PT-MG). Segundo ele, a CPI já detectou movimentações suspeitas da Delta Construções com mais de 200 empresas fantasmas.
No depoimento de cerca de quatro horas à CPI, a procuradora Léa Batista enfatizou que a organização criminosa comandada por Cachoeira tem características semelhantes à máfia italiana. Ela argumentou que um dos aspectos mais fortes é a lei do silêncio imposta a seus integrantes. A procuradora observou ainda que sofreu ameaças do grupo do contraventor, que mandou e-mails para ela e teria até tentado entrar em sua casa, um dia de madrugada. "A Operação Monte Carlo desvelou uma máfia, entranhada no Estado com mecanismos de cooptação de agentes públicos. Um membro do grupo, quando se silencia na Justiça ou na CPI, objetiva escudar o grupo e seu líder. A sociedade ficou totalmente desprotegida com a cooptação do Estado armado", afirmou Léa. Daniel Salgado observou que, pela atual legislação, Cachoeira deverá ficar preso apenas 15 anos, mesmo que seja condenado à pena máxima de 30 anos de prisão.