Descontente com as mudanças na política agrária no governo da presidente Dilma Rousseff, o Movimento dos Sem-Terra (MST) pretende realizar uma nova jornada nacional depois das eleições para cobrar a retomada no assentamento de famílias. O movimento deve repetir a jornada de lutas de abril, o chamado "abril vermelho", quando cerca de 80 fazendas foram invadidas no País, além da ocupação de prédios públicos e paralisação de rodovias. Será após as eleições apenas porque no período eleitoral o foco está nas campanhas, segundo João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. "Não fizemos acordo com o Lula ou com o PT para não fazer mobilização agora. Vamos para a luta no momento certo" disse.
O MST considera que o estilo centralizador da presidente travou a reforma agrária. "Não temos nenhuma família assentada que seja fruto de um processo de desapropriação no governo dela, pois o pouco que se fez se deve ao estoque deixado pelo governo Lula", disse Rodrigues. Segundo ele, o MST concorda com a qualificação da reforma agrária defendida pela presidente, como a de que as áreas desapropriadas sejam de qualidade, bem localizadas e sirvam para o combate à pobreza rural. "Ela quer pouco, mas com qualidade. O problema é que nem o pouco acontece."
Na visão do líder, a arrecadação de terras está parada porque o órgão arrecadador, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) aguarda a nomeação de diretores há seis meses. Além disso, os recursos sofreram corte. De acordo com Rodrigues, o MST e outros movimentos sociais manifestaram seu desagrado durante a marcha realizada na semana passada em Brasília - os manifestantes tentaram invadir o Palácio do Planalto, mas foram contidos pela força policial. As reivindicações do movimento chegaram ao governo, mas não houve sinal de que serão aceitas. "A prosa é boa, mas não tem ação", resumiu.
O Incra informou que estão sendo assentadas 14 mil famílias em projetos criados em 2011 e 2012. O órgão estabeleceu como meta melhorar as condições dos assentamentos, integrando os assentados aos sistemas produtivos. Além disso, serão identificadas 50 mil famílias já assentadas e em condições de extrema pobreza para levar a esses assentamentos os programas do governo de inclusão social e combate à miséria.