A Câmara Municipal de São Paulo vai lançar um Programa de Desligamento Voluntário (PDV) para cortar 12% dos funcionários. Inédita no Legislativo brasileiro, a solução atinge 236 servidores, todos contratados sem concurso público e sem estabilidade. O foco é forçar a demissão de quem ingressou na Casa para realizar funções hoje consideradas incomuns, como lavador de carros, engraxate, garagista, encanador, eletricista e barbeiro. A economia anual pode chegar a R$ 30 milhões.
A lista de funcionários afetados também atinge pessoas que ocupam cargos de chefia e de confiança dos vereadores. É o caso do diretor da área de Recursos Humanos, que recebe R$ 18 mil por mês, e do assessor parlamentar José Luiz dos Santos, o Zé Careca flagrado pela reportagem marcando presença no painel eletrônico para vereadores ausentes no plenário.
Encomendado por Ítalo Cardoso (PT), primeiro secretário da Mesa Diretora, o estudo que determinou as regras do PDV foi finalizado há 15 dias e, apesar de ainda não ter data de lançamento, já virou tema de discussões acaloradas na Casa. De um lado, parlamentares levantam a bandeira da redução de gastos. Do outro, funcionários alegam que não podem ser punidos pelo inchaço da Casa. Hoje, são 1.937 servidores, o equivalente a 35 para cada um dos 55 vereadores. Na Câmara Federal, esse número é de 30.
“O corte atinge aposentados que já poderiam ter deixado a Casa. Hoje temos muitos funcionários com mais de 70 anos, ganhando salários de R$ 9 mil”, diz Cardoso. Segundo o petista, o montante calculado para pagar as indenizações já está assegurado no orçamento. A previsão é de que as despesas com as indenizações previstas no PDV custem até R$ 107 milhões aos cofres do Legislativo em 35 meses, caso a adesão seja maciça.
A execução do programa, no entanto, não vai depender apenas de verba orçamentária. Os funcionários atingidos prometem barrar a proposta na Justiça. “Esse PDV desrespeita e discrimina funcionários que há anos trabalham na Casa, desempenhando importante serviço, incluindo garantias aos próprios parlamentares sobre o desempenho de suas funções. No mínimo, ele viola os princípios da administração pública e, por essa razão, pode e deve ser questionado juridicamente”, diz um dos servidores afetados.