Jornal Estado de Minas

Dirceu reforça defesa no STF

Advogado do ex-ministro, acusado de formação de quadrilha e corrupção ativa, tenta minimizar provas testemunhais

Paulo de Tarso Lyra
José Dirceu é apontado pelo procurador geral da República, Roberto Gurgel, como o chefe da quadrilha - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 2/5/11 O advogado do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, José Luís Oliveira Lima, protocola hoje no Supremo Tribunal Federal um novo memorial contestando as recentes alegações do procurador-geral da República validando as provas colhidas extrajudicialmente. Na tese do documento, o advogado afirma que muitos dos réus ou testemunhas que citaram o nome de José Dirceu em depoimentos informais – na CPI ou na Polícia Federal – mudaram suas versões quando instadas a depor em juízo. E que esses são os depoimentos que devem ser levados em conta no julgamento.
O exemplo citado ao Estado de Minas é o da mulher de Marcos Valério, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza. Em um primeiro momento, ela disse que os contratos e os empréstimos relacionando a agência SMP&B e o PT tinham sido intermediados por Dirceu. Já no depoimento dado à Justiça, ela corrigiu a informação, atribuindo as responsabilidades ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

A estratégia da defesa é clara. Como não existem provas concretas do envolvimento do ex-chefe da Casa Civil no mensalão, o esforço de José Luís é minimizar o peso das chamadas provas testemunhais. Enquadrado no grupo chamado de núcleo político do mensalão, Dirceu é apontado tanto pelo ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza quanto pelo atual, Roberto Gurgel, como o “chefe da quadrilha”.

Os criminalistas também ficaram surpresos com uma recente entrevista concedida por Gurgel, reforçando as dificuldades para imputar responsabilidades ao ex-chefe da Casa Civil. O procurador reconheceu que as provas contra o petista são tênues, mas completou que, em situações como essas, são naturais as dificuldades, pois organizadores desses tipos de crime normalmente não deixam vestígios. “Se ele considera as provas tênues, por que não admite logo que não tem como provar o envolvimento do Zé Dirceu e pede a absolvição?”, questionou um aliado do ex-ministro.

A última semana também não foi muito fácil para os planos do ex-ministro. A condenação de João Paulo Cunha (PT-SP) por lavagem de dinheiro caiu como uma bomba no staff de Dirceu. As acusações de peculato e corrupção passiva contra o ex-candidato do PT à Prefeitura de Osasco eram um risco com os quais os advogados já contavam, principalmente pelos R$ 50 mil recebidos por João Paulo sob a alegação de contratação de uma pesquisa de intenção de votos.

Mas lavagem de dinheiro era um crime muito etéreo na opinião do núcleo político do PT. Mesmo assim, João Paulo foi condenado, embora com um placar mais apertado: 6 a 4, o que permite um recurso no próprio Supremo, o chamado embargo infringente. O placar dilatado nas outras condenações – 9 a 2 – também assustou os aliados de Dirceu. “Perder tudo bem, mas tantos votos favoráveis à condenação gera prognósticos sombrios para os futuros julgamentos”, disse uma pessoa ligada ao ex-ministro.

Eleições Dirceu fez questão de ligar para o ex-presidente da Câmara tão logo a sentença foi proclamada pelo STF. O ex-chefe da Casa Civil gosta de João Paulo, trabalhou intensamente para que ele fosse eleito presidente da Câmara nos dois primeiros anos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Dentro do PT, ambos militam na mesma tendência, a Construindo um Novo Brasil (CNB).

Dirceu também intensificou os contatos com o ex-presidente Lula. Eles já se falavam com frequência, mas a comunicação tornou-se mais constante nos últimos dois meses, na iminência do julgamento do mensalão. Além de discutirem os rumos do julgamento no STF, eles debatem a conjuntura política atual e as dificuldades que o PT enfrenta nas eleições municipais.