O senador Mário Couto (PSDB-PA) é acusado de racismo e abuso de autoridade por uma mulher a quem teria ofendido, chamando-a de "preta", "safada", "macaca", "vagabunda", e outros palavrões. A assistente-administrativa Edisane Gonçalves de Oliveira, de 34 anos, contou em depoimento na polícia que após revidar às supostas agressões verbais do senador e diante de várias testemunhas, foi detida por ordem de Couto, que alegou ter sido "desrespeitado como senador da República". Levada à delegacia de Salinópolis - um balneário banhado pelo Oceano Atlântico na região nordeste do Pará, a 265 km de Belém - a mulher prestou depoimento e foi liberada. Ainda no mesmo dia, ela decidiu processar o senador.
O promotor de Justiça de Salinópolis, Mauro Mendes de Almeida, procurado pelo Grupo Estado, informou que remeteu as peças do inquérito policial para o Supremo Tribunal Federal (STF) em razão de o senador gozar de foro privilegiado. Mas quem decidirá se abre ou não processo contra Couto é o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem a queixa crime será remetida pelo STF.
A resposta de Couto à intenção da mulher de processá-lo viria onze dias depois. No dia 24, fiscais da Agência de Defesa Agropecuária do Estado Pará (Adepará) e da Delegacia de Polícia do Meio Ambiente fecharam um pequeno açougue de propriedade de Ivanildo de Lima Correa, companheiro da denunciante. Conhecido por Vando, o rapaz foi preso em flagrante sob a acusação de manter 42 quilos de carne e frango "impróprios para consumo", acondicionados em um freezer.
"Até hoje não entendi porque fui preso. Em julho, a vigilância sanitária esteve no meu estabelecimento, que é legalizado, viu a carne e o frango estocados do mesmo freezer e nada viu de ilegal. Agora, entraram lá e jogaram creolina em cima dos alimentos e depois levaram para incinerar. Estou me sentindo perseguido, pressionado até o pescoço", queixou-se Correa, por telefone, ao Estado.
Ele ficou na cadeia durante oito dias, sem dinheiro para pagar a fiança, arbitrada pela polícia em 30 salários mínimos, e foi solto, segundo suas próprias palavras, depois que o senador, após acordo, conseguiu reduzir o valor para apenas um salário, pagando do próprio bolso a soltura. "Eu quero saber como isso vai ficar, O senador pagou, mandou me soltar e até me deu um advogado", declarou o açougueiro.
Por telefone, o senador contou ao Grupo Estado uma outra versão, afirmando que foi ofendido por Edisane Oliveira e que um cabo eleitoral que estava na carreata foi agredido por ela com palavras racistas, chamado de "preto", "macaco" e "ladrão". Ele negou ter mandado prender a mulher e que dias depois foi procurado por ela, que queria se desculpar pelo que tinha acontecido. "A questão é política, ela apoia o atual prefeito e eu, outro candidato", disse Couto, que também rebate e acusação de ter mandado prender o açougueiro e os alimentos que ele vendia em seu estabelecimento. "Foi a Adepará que foi lá e viu carne estragada que ele vendia. Estava tudo podre", acrescentou, garantindo que nada tem a ver com o fato de a polícia prender Correa em flagrante.
Ao ser informado de que a promotoria de Salinópolis havia encaminhado o inquérito para o STF e que caberá ao procurador-geral da República decidir se irá processá-lo, o senador foi irônico: "que bom, estou morrendo de medo por causa disso".