Jornal Estado de Minas

Delegado da Polícia Federal terá que explicar declaração sobre ré do mensalão

Polícia Federal instaura inquérito contra Luiz Flávio Zampronha, por ter defendido publicamente Geiza Dias, ré na Ação Penal 470

Maria Clara Prates
Além dos 37 réus acusados de participar do mensalão, o delegado federal Luiz Flávio Zampronha – que presidiu o inquérito que apurou o esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada do governo Lula, em troca de apoio político – terá que se explicar. Nessa segunda-feira, o diretor da Polícia Federal (PF), Leandro Daiello Coimbra, por meio da corregedoria, determinou a instauração de inquérito administrativo disciplinar contra o policial, em razão de entrevistas concedidas à imprensa, depois de iniciado o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão do diretor acontece depois de Zampronha ter sido criticado pelo ministro relator da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, durante sessão de quarta-feira, em razão de suas declarações em defesa de Geiza Dias, suspeita de lavagem de dinheiro e funcionária da agência de publicidade do empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do escândalo. O relator, em seu voto vencido, defendeu a condenação dela.
A pena a ser aplicada a Zampronha já foi até mesmo sugerida pelo ministro Barbosa durante a sessão: “Veja como as coisas são bizarras em nosso país. Um delegado vai à imprensa e diz que fulano não deveria ter sido denunciado. Isso é um absurdo. Em qualquer país decentemente organizado um delegado desses estaria, no mínimo, suspenso”. Na verdade, a ira do relator tinha como alvo o revisor Ricardo Lewandowski, que pediu a absolvição de Geiza Dias e citou as declarações recentes do federal à imprensa.

Na queda de braço sobrou para o policial, que está afastado de suas funções desde o mês passado. Coincidência ou não, ele está licenciado de suas funções à frente da Divisão do Combate aos Crimes contra o Patrimônio, em Brasília, depois de ter sido designado pelo diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Oslaim Campos, para participar de um curso na Escola Superior de Guerra (ESG), por quatro meses, no Rio de Janeiro.

Advertência

Depois da crítica pública, Zampronha tem mantido seu estilo discreto e apenas registrou no seu microblog no Twitter: “Eu, pessoalmente, não vejo elementos que indiquem o domínio do fato (lavagem) por Geiza Dias. Ela colaborou muito com a PF”. O Boletim de Serviço 180, publicado ontem, traz a instauração do inquérito determinada apenas 24 horas depois das declarações de Barbosa. A justificativa é apurar a responsabilidade do delegado por ter concedido entrevista à imprensa, em 13 e 15 de agosto, sobre o mensalão, ainda em fase de julgamento. O boletim afirma que as entrevistas foram dadas apesar de advertência de sua chefia imediata de Zampronha. “Teria ainda, supostamente, promovido manifestação depreciativa à atuação do Ministério Público Federal, no que concerne ao oferecimento da denúncia, condutas essas que configuram, em tese, as transgressões disciplinares”, diz o documento.