Um ano e quatro meses após o assassinato de um comerciante na pacata Japeri, cidade de 95 mil habitantes que fica cerca de 70 quilômetros do Rio, a Polícia Civil concluiu que o crime foi encomendado pelo prefeito da cidade, Ivaldo Barbosa dos Santos, o Timor (PSD). Ele nega e diz estar sendo vítima de perseguição política, já que é candidato à reeleição. Cinco pessoas, entre elas três ex-secretários municipais de Governo, já foram denunciadas pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) e estão presas preventivamente. Por ter foro privilegiado, Timor só pode ser investigado pelo procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes.
Além disso, durante as investigações, os policiais da 63ª Delegacia de Polícia (Japeri) descobriram por acaso um suposto esquema de compra de apoio de vereadores pelo prefeito. Ao cumprirem um mandado de busca na casa de um dos suspeitos do assassinato, o ex-secretário Seny Júnior, os agentes encontraram um pen drive que continha imagens que mostram Timor entregando maços de notas de R$ 50 aos vereadores José Alves do Espírito Santo, o Zé Ademar (PSB), presidente da Câmara, e José Valter de Macedo, o Val (PSB), que é ex-policial militar. Como a Constituição do Estado do Rio também garante foro privilegiado a vereadores, a dupla também será investigada por Lopes. O MP-RJ informou que ainda não recebeu cópia do inquérito, que tramita na Vara Criminal de Japeri.
"André estava em franca ascensão política na cidade. Por ser comerciante, conhecia muita gente e era bem relacionado, o que estava despertando a inveja do prefeito", disse ao Grupo Estado o delegado Carlos Augusto da Silva, da 63ª DP.
As testemunhas do crime reconheceram o atirador. Tiago Rosa da Silva, o TH, foi preso em junho de 2011. Conhecido na cidade por seu envolvimento com o tráfico de drogas, TH negou envolvimento no homicídio, mas revelou que havia sido convidado a participar do crime por Italo Gomes Neri, o Dudu. Ele só foi localizado em 22 de junho deste ano. Em depoimento, Dudu confessou o crime e disse que fora contratado pelo então secretário municipal de Governo Seny Júnior, de quem era motorista. Numa conversa gravada pelos policiais, exibida nesta terça-feira pela TV Globo Dudu pede perdão à mãe da vítima, que diz ter pena dele.
Seny foi preso em 22 de junho, escondido em casa de parentes na zona oeste da capital. No dia seguinte, foi preso Cláudio Vieira secretário de Governo até o início deste mês e tio do prefeito. Segundo a polícia, Claudio teria emprestado o Astra usado pelos assassinos.
O caso foi elucidado em 8 de agosto, com a prisão de Sidnei Coutinho, que foi secretário de Governo antes de Seny. Sidnei foi flagrado pelas câmeras de segurança do restaurante de André conversando com ele, momentos antes do assassinato. Para os investigadores, ele contou aos assassinos o horário exato que a vítima ia para casa e as roupas que vestia. Os cinco presos foram denunciados à Justiça por homicídio duplamente qualificado. Se condenados, podem pegar de 12 a 30 anos de prisão.
Procurado, Timor negou as declarações do delegado e disse que vai processá-lo. "Isso é abuso de autoridade e irresponsabilidade. Ele vai ter que provar na Justiça tudo isso. Meu nome não consta no inquérito e nunca foi intimado a depor. Esse garoto (André) era comerciante como eu, nem era político. Virei prefeito para cuidar da vida humana, não para fazer maldade".