Brasília – O relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, assume a Presidência do Supremo Tribunal Federal em menos de dois meses e já anunciou a intenção de procurar a presidente Dilma Rousseff para discutir mudanças profundas na política brasileira, como a reforma eleitoral e a revisão do financiamento das campanhas. Em seu voto sobre o núcleo político do processo do mensalão, em que condenou 12 acusados e reconheceu a existência de um esquema de compra de votos no Congresso, Joaquim Barbosa citou as incoerências produzidas pelas "especificidades da realpolitik brasileira". Ele citou a expressão alemã para exemplificar alianças políticas que considera esdrúxulas e que, para ele, justificaram o surgimento do mensalão. Citou acordo entre partidos "antípodas" e com ideologias distintas e deu pistas sobre o que ele acredita ser imprescindível mudar na política brasileira.
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Antes mesmo de ler o voto, o ministro Joaquim Barbosa declarou em entrevista ao jornal francês Le Monde que assim que assumir a Presidência do Supremo procurará a presidente para propor uma reforma eleitoral. "Esse é um dos pontos que eu pretendo discutir com a presidente Dilma Rousseff quando eu for o presidente do STF. É necessário ajudá-la a assumir um grande papel de liderança para realizar uma mudança verdadeira", justificou Barbosa.
Para a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, o financiamento de campanhas é ponto-chave da reforma política. "A forma atual não é ruim, o problema é como grupos que estão no poder se apropriam desse formato e de suas brechas para atrair para seu campo de influência aqueles partidos que podem influenciar na governabilidade", acrescenta Maria do Socorro.