Faltando uma semana para a eleição municipal, em circunstâncias normais seria possível dizer que o quadro atual apresentado pelas pesquisas tende a ser confirmado pelas urnas. Mas a campanha tem apresentado singularidades, como a inclinação do eleitorado por novidades, o que nem sempre quer dizer por nomes novos. Outra marca tem sido a surpresa, a reviravolta brusca, com a despencada de favoritos e a ascensão de candidatos que estavam na retaguarda. Uma terceira característica, a ser confirmada pelas urnas, será a dispersão dos votos entre um maior número de partidos, o que só piora o nosso fragmentado quadro partidário.
Em Salvador, tanto ACM Neto, do DEM, quanto Nelso
n Pelegrino, do PT, são figuras já carimbadas. Mas o inesperado aconteceu na sexta-feira, segundo o Ibope, com a ultrapassagem de Neto pelo petista. Nem tão inesperado, se lembrarmos que Pelegrino já demonstrou, em mais de uma disputa majoritária, sua capacidade de crescer na chegada, embora morrendo na praia. Desta vez, ele tem o apoio de um governador bem avaliado como Jaques Wagner.
O candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, é o mais forte emblema da inclinação do eleitor pela velha novidade. Ele já tem muitos anos na estrada política, não é um neófito. A novidade seria chegar, por um partido pouco expressivo, a posto executivo tão importante, suplantando as duas maiores forças políticas do estado, PSDB e PT. Foi intuindo essa busca da novidade que o ex-presidente Lula lançou Fernando Haddad, o único candidato que parece ter sido efetivamente afetado pelo julgamento do mensalão. Mas o elemento surpresa visitou São Paulo novamente e Russomanno entrou na reta final perdendo cinco pontos, segundo a pesquisa Ibope/TV Globo. O quadro instável já nem permite descartar o segundo turno entre Serra e Haddad. Amanhã, a presidente Dilma fará campanha presencial pelo petista, embora seja incerta sua capacidade de agregar votos, apesar da alta popularidade.
A novidade e o inesperado visitaram o Recife. Depois da derrocada dos favoritos iniciais, o petista Humberto Costa e o demista Mendonça Neto, subiu a estrela do candidato do governador Eduardo Campos, o seminovo Geraldo Júlio. Na reta final, ascendeu inesperadamente o tucano Daniel Coelho. Hoje, os dois disputariam o segundo turno. No capítulo novidades insere-se o desempenho do candidato Ratinho em Curitiba e o do pepista Alcides Bernal (pivô da prisão do diretor do Google Brasil) em Campo Grande, que podem derrotar os caciques locais.
São surpreendentes as disputas emboladas como a de Fortaleza, onde o candidato petista Elmano de Freitas disparou oito pontos e empatou tecnicamente (24%) com o candidato do PSB, Roberto Claudio (19%). Lá, o PSB não aceitou a indicação de Elmano e lançou Claudio, engrossando a crise entre os dois partidos. Seus candidatos estão embolados também em Cuiabá.
Diante de tão fortes sinais de volatilidade, o bom senso não recomenda apostar na confirmação do quadro desenhado neste último fim de semana antes do pleito.
O comando do Congresso
Passada a eleição, entra para valer na agenda a eleição das Mesas da Câmara e do Senado, assunto agora soterrado pela campanha. O acordo entre o PT e o PMDB para que o novo presidente da Câmara seja um peemedebista vai bem entre as duas legendas, mas ele não inclui os outros partidos, e especialmente o mais novo e agora dos mais influentes, o PSD. O nome de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) nunca foi apresentado aos outros. Uma conspiração ainda muito incipiente projeta a formação de um superbloco reunindo PSD, PTB, PP, PR e talvez o PSB e o PCdoB. Uma candidatura avulsa estaria germinando exatamente no PSB, aliado com o qual o PT teve tantas desavenças recentemente. Seria a do deputado mineiro Julio Delgado.
No Senado, a candidatura do senador Renan Calheiros vai se consolidando na sombra e no silêncio. Mas ali também pode surgir um candidato avulso nas próprias lides governistas.
Toga justa
O polido ministro Marco Aurélio foi quem reagiu, mas quase todos, no Supremo, estão incomodados com a aspereza do ministro Joaquim Barbosa, não só em relação a Lewandowski. Os atritos trouxeram um impasse. Por voto secreto, poderiam não eleger Joaquim para presidente, em novembro. Mas se não o fizerem, quebrando a tradição, será uma discriminação e pagarão caro por isso.
Tradição do JC
Mais antigo veículo em circulação ininterrupta na América Latina, o Jornal do Commercio (RJ), dos Diários Associados, festeja 185 anos amanhã, homenageando um grande elenco de personalidades: a presidente Dilma Rousseff; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes; e o ministro do STF Luis Fux.
NOVIDADE E SURPRESA