Um dia depois de o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) anunciar que vai recorrer a cortes internacionais contra sua condenação no julgamento do mensalão, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e juristas afirmaram ontem que o réu não terá êxito nessa tentativa. Dois ministros ouvidos pelo Estado de Minas observam que o réu tem o direito de apelar à Organização dos Estados Americanos (OEA), mas avaliam que o órgão não teria motivo para mudar a decisão do STF, uma vez que os direitos de defesa dos acusados foram respeitados.
“A possibilidade de recorrer é latente, mas evidentemente passará pelos filtros da OEA, por uma triagem. E é preciso lembrar que o Supremo atua a partir de um predicado da República que é a soberania. A decisão de uma corte internacional não implica a possibilidade de cassação de um pronunciamento soberano”, destacou Marco Aurélio, antes de ironizar a atitude de Costa Neto. “Vai levar o que para o OEA? Que foi condenado? Isso não encontrará ressonância. Depois que o Supremo bate o martelo tudo mais está circunscrito ao direito de espernear”, completou o ministro.
Outro integrante do STF, que pediu para não ser identificado, ponderou que jamais a OEA consideraria que o STF estaria violando garantias dos réus, pois o processo está sendo conduzido em conformidade com a Constituição e as leis brasileiras. Alguns defensores de réus avaliam que seria um desgaste para os acusados a adoção de qualquer atitude que confrontasse a decisão do Supremo.
México
Nos bastidores, advogados de réus do mensalão comentam com pessimismo a possibilidade de um recurso na OEA. Segundo o defensor de um dos acusados, um caso ocorrido no México é um precedente desalentador. O governo do país contratou um advogado para defender cidadãos mexicanos condenados nos Estados Unidos. A OEA entendeu que eles não tiveram direito de defesa, porque nem sequer falavam inglês e não tinham defensor que os representasse dignamente. Os EUA, no entanto, ignoraram a manifestação da OEA.
Na avaliação do especialista em direito constitucional Erick Wilson Pereira, um possível recurso seria inócuo, uma vez que os direitos e garantias dos cidadãos brasileiros foram respeitados pelo Supremo. “A plausibilidade desse recurso é praticamente zero, porque fizemos um processo válido, com o devido processo legal observado e diante de um tribunal constitucional de um país soberano”, afirmou Pereira.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirma que não há espaço para a atuação de qualquer corte internacional. “É algo que não tem mais a mínima viabilidade, porque isso só seria cabível se estivéssemos presenciando um julgamento em que fossem desatendidas as garantias asseguradas pela Constituição e asseguradas internacionalmente a qualquer réu”, opinou Gurgel.