Brasília – O voto do ministro Ricardo Lewandowski foi um alento para o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O revisor absolveu ontem o petista e tentou derrubar todas as acusações contra o réu, que é o símbolo do processo do mensalão. Mas a sensação de alívio para Dirceu durou pouco. Os ministros Rosa Weber e Luiz Fux acataram integralmente a denúncia contra os acusados do núcleo político e condenaram, além do ex-ministro, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-presidente da legenda José Genoino. Como o relator, Joaquim Barbosa, havia considerado o trio culpado pelo crime de corrupção ativa, o placar pela condenação já está em três a um contra Dirceu; e quatro a zero contra Delúbio.
Os ministros mais antigos da Corte interromperam o revisor várias vezes enquanto ele lia seu voto e indicaram que podem condenar o trio petista. O decano Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes mostraram discordância com relação a vários argumentos usados pelo revisor. Gilmar chegou a dizer que havia “contradições” na argumentação de Lewandowski. Marco Aurélio foi irônico e questionou a alegação de que Delúbio Soares teria agido por conta própria. “Eu me questiono se o tesoureiro de um partido político teria essa autonomia”, disse o ministro. O revisor respondeu com certa rispidez: “É possível que tenham operado a mando de alguém. Mas, se Vossa Excelência tiver provas, ótimo”.
O presidente da Corte, Ayres Britto, indicou que deve seguir o relator, ao afirmou que Delúbio “não faria carreira solo” diante da grande quantidade de recursos que circulou no esquema.
Sem dúvidas
A ministra Rosa Weber disse não ter nenhuma dúvida sobre o envolvimento de Dirceu e Genoino no esquema. “Com todo o respeito, não é possível acreditar que Delúbio sozinho teria comprometido o PT com dívidas da ordem de R$ 55 milhões. Seria concluir que ele teria sido o principal artífice do esquema”, justificou. Pela primeira vez desde o início do julgamento, ela reconheceu que o mensalão foi um esquema de compra de votos e de apoio político.
Último a votar ontem, o ministro Luiz Fux considerou que havia uma “relação negocial” entre José Dirceu e o empresário Marcos Valério. “Sobre o réu José Dirceu, eu concluí que ele é responsável pelo crime de corrupção ativa pela lógica da experiência comum, pela lógica da vida”, afirmou. Ao se pronunciar sobre Genoino, Fux reconheceu que o réu “vive modestamente”, mas frisou que a corrupção nem sempre leva ao enriquecimento.
Rosa Weber e Fux votaram ainda pela condenação do operador do mensalão, Marcos Valério, e de seus ex-sócios em agência de publicidade, Cristiano Paz e Ramon Rollerbach; da ex-gerente financeira da empresa Simone Vasconcelos; e do ex-assessor jurídico de Valério, Rogério Tolentino. Eles absolveram Geiza Dias, ex-funcionária da agência e o ex-ministro Anderson Adauto.