Brasília – Centro das atenções na disputa pelas prefeituras este ano, São Paulo está longe de ser a única capital a se deparar com um cenário indefinido para o segundo turno das eleições municipais. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, quatro capitais vivem uma situação semelhante à de São Paulo, com dois ou até três candidatos brigando pela segunda vaga para disputar o segundo turno no dia 28. Outras cinco capitais aparecem com candidatos empatados em primeiro lugar, a três dias do pleito.
A disputa apertada entre os dois candidatos saiu das ruas e foi para a Justiça Eleitoral. No início da semana, o PT emplacou uma liminar impedindo o candidato do DEM de citar o mensalão nos palanques ou no horário eleitoral. A decisão acabou por tirar ACM Neto do ar no último dia da propaganda eleitoral.
Fortaleza é outra capital que assistiu a uma eleição tida como definida em favor do candidato Moroni Torgan (DEM) inverter os sinais. O candidato petista, Elmano de Freitas, tido como o azarão da disputa, hoje está empatado tecnicamente com o deputado estadual Roberto Cláudio (PSB), com 23% e 25% das intenções de votos, respectivamente. Torgan não só perdeu o favoritismo como aparece em terceiro nas pesquisas, com 15%. O cenário se repete em Manaus, onde o reforço do ex-presidente Lula é apontado como fator fundamental para o avanço de Vanessa Grazziotin (PCdoB), que começou o embate com 19% dos votos e hoje está empatada com Artur Virgílio (PSDB), ambos com 29% da preferência do eleitorado.
A exemplo de São Paulo, onde o petista Fernando Haddad, o tucano José Serra e o líder, Celso Russomano (PRB), disputam voto a voto para definir os protagonistas do segundo turno, Goiânia, João Pessoa, Belém e Porto Velho ainda não têm indicação de quem ocupará a segunda vaga para o pleito de 28 de outubro. Em Goiás e na Paraíba, a corrida pelas prefeituras está tão embolada que três candidatos se enfrentam pela segunda vaga. Ao todo, 10 capitais aparecem com o cenário incerto para o segundo turno, praticamente na véspera da eleição.
Despreparo
Na avaliação do cientista político da USP José Álvaro Moisés, esse nível de indefinição aponta para uma maior maturidade do eleitorado brasileiro. E também para o despreparo dos partidos para atender às demandas desses eleitores. “Há uma tensão maior do eleitorado na hora de escolher os candidatos, muito maior do que se via nas eleições anteriores”, afirma Moisés. “É um resultado do amadurecimento da democracia brasileira, mas também de uma série de eventos extraordinários, como o julgamento do mensalão e a CPI do Cachoeira, além de questionamentos sobre políticas adotadas em várias áreas que têm desagradado o cidadão. O eleitor está mais cuidadoso, buscando referências antes de eleger um candidato”, observa.
Por outro lado, diz o especialista, os partidos falham em apresentar propostas diferenciadas o suficiente para gerar uma escolha clara entre os eleitores. “Os partidos de direita e de esquerda migraram para o centro. À medida que isso ocorre, as propostas ficam muito semelhantes, a oferta de uma visão alternativa é escassa”, diz Moisés. “Geralmente nas capitais, o eleitor tem mais acesso a informação, ele é mais crítico e mais exigente. A demora em se definir entre candidatos extremamente parecidos é natural.”