Jornal Estado de Minas

Ex-presidentes do Brasil e do Peru veem retrocesso no continente

Agência Estado
A experiência direta do poder e o bom humor por já tê-lo deixado fizeram nessa segunda-feira dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Alan Garcia, do Peru, as estrelas do que foi, talvez, o mais contundente - e, às vezes, divertido - painel da Assembleia da SIP, até aqui. “O que se vê é um ressurgimento do pensamento contrário à democracia”, resumiu FHC sobre a região, na qual vê “um retrocesso” nas crescentes pressões contra a imprensa.
Em outra definição sobre esse processo, Garcia afirmou: “Podíamos dizer que a democracia aparente, que é ganhar as eleições, não é mais suficiente para definir os valores democráticos, e nem a separação - aparente - dos poderes. A liberdade de expressão é que é, agora, o termômetro para medir o que é democracia.”

Os dois foram apresentados por Robert Civita, do Grupo Abril - que, de saída, advertiu: “A liberdade de imprensa não é um fim em si, é para garantir a liberdade da sociedade”. Por uma hora e meia, às vezes interrompidos por aplausos, Garcia e Cardoso alternaram avaliações históricas sobre o continente, brincadeiras e críticas ao autoritarismo.

FHC disse, por exemplo, não entender o espanto do País ao ver instituições funcionando: “Há liberdade, eleições, há um Ministério Público investigando e até um Supremo Tribunal Federal julgando. O que há de espantoso? Deviam achar normal!”

Garcia denunciou o “estatismo comunicacional” e ironizou a “nova estratégia de grupos autoritários, que, depois de atacar políticos ou o liberalismo, agora atacam a imprensa”. Sobre tentativas de regular o fluxo de informações na sociedade, questionou: “Como regular o que se regula a si mesmo? Como regular o ar?” E sugeriu que se mude o conceito de “Homo sapiens” para “Homo comunicante”. Depois, parodiando René Descartes, lançou o “Comunico, logo existo”.

Provocado a falar do conflito que envolve a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, FHC criticou governos bolivarianos que tentam mudar suas regras: “Os governos têm de entender que a fiscalização do que diz respeito aos direitos universais não pode ser fechada”. A propósito, afirmou que a pregação democrática diminuiu no continente, “como se a democracia já estivesse consolidada e como se o progresso econômico trouxesse a democracia - e isso não é necessariamente assim”.